Colunas

Ilhas no deserto

No Peru existem maravilhas por todas as partes. Mas poucos conhecem o esplendor das lomas costeiras, uma mancha que concentra umidade e diversas espécies em um ambiente seco.

29 de outubro de 2007 · 16 anos atrás
  • Marc Dourojeanni

    Consultor e professor emérito da Universidade Nacional Agrária de Lima, Peru. Foi chefe da Divisão Ambiental do Banco Interam...

Quem vai visitar o Peru pensa fixamente em ir a Cuzco e Machu Picchu, ou seja, espera ver, respectivamente, os Andes e a Amazônia Alta. Os mais avisados sabem que no Peru existem maravilhas por todas as partes, como os esplêndidos glaciares tropicais da Cordilheira Branca e as paragens de inacreditável beleza e diversidade vital da Amazônia, tanto alta como baixa, como no Parque Nacional do Manú, que reúne ambas as porções. Também, obviamente, é sabido que existem inúmeros desenvolvimentos culturais bem anteriores aos Incas e que estes foram tão ou mais desenvolvidos que os próprios. Muitos sabem, ainda, que a civilização Caral tem 5.000 anos de antiguidade, fazendo que as Américas não tenham nada a invejar das mais velhas culturas do planeta. Mas, o que poucos sabem, é que a Costa Central e Sul do Peru é um deserto absoluto. Menos ainda, são os que sabem que nesse deserto florescem a cada ano ilhas de verdor e beleza sem par. Trata-se das lomas costeiras.

A primeira vista é incompreensível como descobrir enormes manchas de vegetação florida nos interflúvios áridos, no meio do nada e longe das irrigações que permitem o desenvolvimento da agricultura nos vales. Mais ainda, porque semanas antes nesse lugar só se via um deserto absoluto. O fenômeno das lomas não é, com efeito, permanente, exceto em setores limitados onde a esparsa vegetação arbórea ou os rochedos conseguem fazer seu trabalho. Seu trabalho é a captação eletrostática da umidade do ar contida nas nuvens e permitir a infiltração dessa água no solo, de onde é extraída pelas plantas.

As nuvens costeiras são a conseqüência do confronto entre o ar frio e úmido provocado pela Corrente de Humboldt no Oceano Pacifico, empurrado sobre a base dos Andes pelos ventos alísios, e o ar quente tropical da capa superior que não permite que elas subam além de 800 metros sobre o nível do mar. Trata-se de um fenômeno de inversão térmica que também explica porque nunca chove nessa parte da costa do Peru. Como dito, o fenômeno é estacional e, por isso, é ainda mais surpreendente sendo sua máxima intensidade no final do inverno ou ou especialmente no início da primavera. No verão as nevoas se dissipam completamente e a vegetação desaparece em grande parte da área, restando apenas as árvores e pouca coisa mais. Obviamente, sua intensidade varia muito ano a ano, dependendo da temperatura do oceano.

O que importa para os que visitam o Peru, na época oportuna, é gastar um dia para ver essa maravilha da natureza. A Reserva Nacional de Lachay está apenas a uma hora ao norte de Lima e na viagem se pode apreciar assim mesmo, dunas impressionantes e, se quer gastar um tempinho a mais, pode ver um pouco mais ao norte, no mesmo circuito, as famosas ruínas de Caral, a cidade mais velha das Américas.

Leia também

Notícias
24 de abril de 2024

Na abertura do Acampamento Terra Livre, indígenas divulgam carta de reivindicações

Endereçado aos Três Poderes, documento assinado pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) e organizações regionais cita 25 “exigências e urgências” do movimento

Reportagens
24 de abril de 2024

Gilmar suspende processos e propõe ‘mediação’ sobre ‘marco temporal’

Ministro do STF desagrada movimento indígena durante sua maior mobilização, em Brasília. Temor é que se abram mais brechas para novas restrições aos direitos dos povos originários

Notícias
24 de abril de 2024

Cientistas descobrem nova espécie de jiboia na Mata Atlântica

A partir de análises moleculares e anatômicas, pesquisadores reconhecem que jiboia da Mata Atlântica é diferente das outras, e animal ganha status de espécie própria: a jiboia-atlântica

Mais de ((o))eco

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.