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O burro e a perereca

Para escrachar ainda mais o uso criminoso da máquina pública, o des-governo armou para a Madrinha dos Empreiteiros um último ato circense, o PAC 2.

5 de abril de 2010 · 14 anos atrás
  • José Truda Palazzo, Jr.

    José Truda é jardineiro, escritor, consultor em meio ambiente especializado em conservação marinha e tratados internacionais, e indignado.

Encaminha-se para seu quadrante final o des-governo de Lullão Metralha, definido em reunião recente de que participei, por um Procurador da República, como o pior inimigo da gestão ambiental desde a ditadura militar. Sob o brilho efêmero da ovação dos ignaros, dos puxa-sacos e dos aproveitadores empresariais do descalabro que em Pindorama se instalou para destroçar o que resta de nossa biodiversidade para dar lucro às máfias de sempre, nosso midiático Einstein de Garanhuns segue rumo ao ocaso político temporário na certeza de que seus truques de facilitação do consumismo de maloqueiros e de fazer chover dinheiro público fácil sobre as cabeças dos não trabalhadores serão suficientes para assegurar a continuidade, qual PRI mexicano do reinado de seu império petista pelas férreas mãos stalinistas-ma-non-troppo de Dilma, a Plástica.

“Lullão Metralha e sua Sucessora-Quero-Ser fazem questão de reafirmar sua ojeriza pela conservação da biodiversidade e seu compromisso de acabar com ela, e com a legislação que a protege, a qualquer custo.”

Para escrachar ainda mais o uso criminoso da máquina pública na tentativa da construção de sua falcatrua eleitoral, o des-governo armou para a Madrinha dos Empreiteiros ainda um último ato circense, o lançamento do PAC 2, versão piorada do PAC 1, que por sorte não foi executado sequer à metade, porque se o fosse teria patrolado indelevelmente áreas naturais relevantes, desfigurado de vez a legislação ambiental, e consolidado a venda do Estado brasileiro às corporações amigas do Rei e seus acólitos.

Ora pois, serviu entretanto o “lançamento” da candidata fantasiado de lançamento de ação governamental ao menos para nos reiterar uma coisa: Lullão Metralha e sua Sucessora-Quero-Ser fazem questão de reafirmar sua ojeriza pela conservação da biodiversidade e seu compromisso de acabar com ela, e com a legislação que a protege, a qualquer custo.

Não é outro o recado que se depreende da enésima menção do Iletrado Etílico aos anfíbios ameaçados de extinção do Sul do Brasil , óbvia e propositalmente em tom pejorativo. A truculência de quem se sente apto a governar de forma imperial sem conseguir ler sequer o pasquim da corte só pode ter se sentido afrontada quando obras rodoviárias no Rio Grande do Sul tiveram atraso justificado, enquanto técnicos da área ambiental ainda não vendida do governo avaliavam se a situação de quatro espécies ameaçadas de anfíbios e uma em particular, o sapo-narigudo-de-barriga-vermelha (Melanophryniscus granulosus) , que não era visto há décadas, considerado muito ameaçado de extinção, seria piorada pelas obras. Disse Sua Iletrescência no discurso eleitoreiro do PAC2: “E eu, em 2004, fui lá buscar a ordem que ele deu e dar outra ordem. Porque não aconteceu nada com a ordem que ele deu. E com a minha quase que não acontece nada também, porque tinha uma perereca no túnel, e a perereca embirrou a obra seis meses, seis meses! ”

Não foi também qualquer surpresa que, mais uma vez, a famigerada Abdib – Associação Brasileira das Indústrias de Base, que congrega o que há de mais retrógrado no empresariado nacional do ponto de vista ambiental,lobista principal contra as normas de licenciamento e que virou comensal do palácio de Dilma Roussef, assegurando as boas relações do petismo anti-ambiental com as mega-corporações, tivesse papel de destaque no festerê do PAC2, sendo que seu Presidente Paulo Godoy fez seu habitual discurso ufanista sobre como é bom crescer à sombra do lullismo.

Fatos concretos e avaliações independentes demonstram claramente que os tais PACs são uma farsa eleitoreira do ponto de vista das realizações práticas . Como eu já disse, menos mal, porque se concretizadas suas obras faraônicas causariam muito mais dano ambiental ao país. No PAC2, o escracho anti-ambiental está simbolizado de forma perfeita pela previsão de uma hidrelétrica dentro de um parque nacional, o que demonstra que Dilma, a Plástica, pretende se eleita ignorar soberbamente a legislação ambiental e abandonar qualquer semblante de gestão equilibrada, para simplesmente patrolar o que resta de conservação da biodiversidade no país. Não basta o que ela vem fazendo ao engavetar na Casa Civil a criação de novas áreas protegidas (inclusive as que o Minc-ganador lutou para acelerar antes de sua saída do Ministério do Meio Ambiente, e que os corredores brasilienses já alardeavam às ONGs mais crédulas como favas contadas há poucas semanas: ficou tudo engavetado mesmo); a nova ordem, pelo jeito, é escangalhar o pouco que temos de Unidades de Conservação.

“Não interessa de maneira nenhuma propor que o país se emancipe dos parasitas de mega-obras e indústrias arcaicas, calcadas no consumismo individualista. “

Não é, de novo, nenhuma novidade, se olharmos para o estado de mais absoluta miséria em que foram atiradas as áreas federais protegidas na “gestão” do mambembe Instituto Chico Bento, primo pobrérrimo do IBAMA, cuja utilidade para o lullismo é fingir que se protege alguma coisinha no país com planos, projetos e programas que nunca se implementam. O mais apavorante é a perspectiva para o futuro. Lullão Metralha pode ser um ignorante truculento que detesta a conservação, mas Dilma, a Plástica, é truculenta mas não ignorante. Ela sabe muito bem que suas políticas de esmagamento da gestão ambiental atendem diretamente a interesses corporativos e eleitorais tendentes a impedir que se implante uma gestão do país que podia apontar a outro modelo de desenvolvimento, um modelo que não interessa ao esquemão tradicional dos empreiteiros da Abdib e aos carvoeiros e petroleiros como Eike Batista e os faraós paraestatais da Petrobras.

Criar um país em que a geração de energia seja alternativa e com tecnologias inovadoras como eólica e fotovoltaica, difusa e em menor escala do que os mega-projetos; em que ao invés de se fazer renúncia fiscal para vender carro fuleiro a pobre deslumbrado se invistam esses bilhões em melhoria de transporte público para os outros milhões de mais pobres não-deslumbrados e desgraçados que seguem dependentes de ônibus velhos e poucos; em que o ecoturismo de base comunitária beneficie pessoas espalhadas, e não conglomerados portugueses e espanhóis concentradores de renda; tudo isso vai frontalmente contra os interesses das corporações gigantescas que vivem do incesto com o Estado e com o PT desde sua assunção ao poder federal. A eles e à Dilma, que precisa de contribuições de campanha dessa turba corporativa, não interessa de maneira nenhuma propor que o país se emancipe dos parasitas de mega-obras e indústrias arcaicas, calcadas no consumismo individualista. Melhor que siga tudo como está, e dane-se a sustentabilidade, que afinal só precisamos é pensar em ciclos eleitorais de quatro anos, não é mesmo?

É hora de se dar um basta na prostituição do Estado brasileiro a esses interesses. Pode ser que outros partidos que não o de Dilma, a Plástica, também pratiquem o clientelismo empresarial, mas nunca na história desse país, como agrada dizer ao Einstein de Garanhuns, viu-se tamanha desfaçatez em praticá-lo. Dizer um sonoro não ao que essa gente representa nas eleições deste ano pode ser a única chance que temos de reverter esse processo de desconstrução ambiental do Brasil. E quem sabe, se conseguirmos derrubá-los, a candidata que representa todo esse atraso e que detesta a conservação da Natureza aprenda, enfim, que não é espancando a perereca que se chega a Presidente da República.

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