Colunas

Ai de ti, Ilha Grande

Moradores e turistas da Vila do Abraão, principal ponto de chegada ao paraíso ecológico, sofrem com apagões, acumulo de lixo e transporte caótico.

17 de janeiro de 2016 · 8 anos atrás
  • Emanuel Alencar

    Jornalista e mestre em Engenharia Ambiental. É autor do livro “Baía de Guanabara – Descaso e Resistência” (Mórula Editorial) e assessor de Comunicação na Prefeitura do Rio

Emanuel

Um dos mais aprazíveis destinos turísticos do Brasil começou mais um ano com um triste enredo já visto diversas vezes por seus moradores e visitantes. A Vila do Abrão, principal centro receptor de turistas da Ilha Grande, na Costa Verde fluminense, padece com acumulo de lixo, total falta de controle do transporte marítimo, apagões duradouros de energia elétrica, ruas na penumbra. Quem contava com freezers e geladeiras para gelar as bebidas no réveillon brindou a chegada de 2016 com espumantes quentes: a passagem de ano no Abraão foi marcada pela falta de luz interrompida das 20h30 às 01h30. O amigo leitor não entendeu errado: cinco horas no breu.

“Nada de novo — ou de ruim — em relação aos anos anteriores. Dessa vez, porém, há dois agravantes: o fluxo de visitantes tem exponencialmente aumentado (mais de 18 mil visitantes na virada do ano, segundo dados estimados por gente local e não confirmados) e a demora em trazer a situação aos níveis aceitáveis”, observa Alexandre Oliveira, presidente do Comitê de Defesa da Ilha Grande (Codig).

Não raro, pilhas de lixo podem ser vistas nas esquinas do Abraão. Mesmo sem chuva, a coleta tem sido de baixíssimo rendimento. Alexandre lembra que toda essa situação inaceitável ocorre 14 anos após a assinatura de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) da Ilha Grande,até hoje descumprido. Se as multas aplicáveis ao descumprimento do TAC fossem cobradas, ele observa, chegariam a cerca de R$ 123 milhões (só a prefeitura de Angra ficaria com o encargo de R$ 74 milhões, sendo que pelo plano de resíduos sólidos, chegariaà bagatela de R$ 25 milhões).

Sobre os apagões, ninguém sabe, ninguém viu.  A prefeitura de Angra e a sua autarquia TurisAngra não deram declarações em suas respectivas páginas na internet. Totalmente desregrado, o transporte marítimo entre Angra dos Reis, Conceição de Jacareí, Mangaratiba e a Vila Abraão só aumenta no quesito número de passageiros transportados. Em qualidade, o serviço, que ainda aguarda um marco legal e fiscalização, segue ladeira abaixo.

O governo do estado, por meio da Secretaria do Ambiente, tem batido da tecla da necessidade de estabelecer mais controle nos acessos à ilha, protegida por um parque estadual, uma reserva, e uma Área de Proteção Ambiental (APA). A cobrança de ingresso de acesso está sendo estudada. Seria bom que além das ações de ordenamento, serviços básicos pudessem ser oferecidos por lá.

▀ ▀ ▀

Nesta segunda-feira, dia 18, comemora-se o dia estadual da Baía de Guanabara. Apesar dos avanços nos últimos anos, a falta de saneamento em seu entorno é motivo de enorme vergonha para os cariocas e brasileiros. Mas a baía insiste em sobreviver. Parabéns à nossa belíssima Guanabara! Que possamos, todos nós, tratá-la melhor.

 

 

Leia Também

Manchetes que eu gostaria de ler em 2016

Lenine dá exemplo para salvar manguezal

Refinaria Duque de Caxias atinge 75% de obrigações ambientais

 

 

 

Leia também

Colunas
21 de dezembro de 2015

Refinaria Duque de Caxias atinge 75% de obrigações ambientais

Marca é ótima notícia, pois a refinaria leva a pecha de ser a maior poluidora da Baía de Guanabara. Mas falta inaugurar estação de tratamento do Rio Irajá.

Colunas
9 de dezembro de 2015

Lenine dá exemplo para salvar manguezal

Artista põe a mão na lama e ajuda a recuperar bosque de manguezal na região da APA de Guapimirim, a última área verde da Baía de Guanabara

Colunas
4 de janeiro de 2016

Manchetes que eu gostaria de ler em 2016

Como sonhar não custa nada (ou quase nada), vamos às dez notícias que eu gostaria de ler neste ano novo.

Mais de ((o))eco

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

Comentários 6

  1. antonio diz:

    A administração da Ilha grande não é diferente da administração do nosso país, onde o único interesse é ganhar vantagem explorando o máximo de lucratividade e total desrespeito com as pessoas e principalmente o meio ambiente. Porque não fazer uma campanha de conscientização ambiental, promover coleta seletiva onde possa se reciclar o máximo que puder, castrar os animais, tratar o esgoto, enfim, são muitas medidas que eu não sei porque não são implantadas. MANIFESTAÇÕES PARA SALVAR A ILHA JÁ! na prefeitura, chamem a imprensa sei lá, alguém tem que fazer alguma coisa!


  2. Ana Paula diz:

    Fui na Ilha em dezembro, vi tudo que vc citou e mais, a falta de educação dos turistas nas praias, deixando suas latinhas jogadas na areia. Falta de educação e consciência, os barcos de turismo estao mais preocupados em ganhar dinheiro do que conscientizar os turistas antes de descer para as praias. Outro ponto é o número de cachorros de rua pela Ilha. Tem animais muito doentes perambulando. Por que nao realizar uma ação de castração?! A Ilha esta um nojo. Sinceramente me arrependi de ter ido.


  3. Bebeto Contador diz:

    Meu nome e Roberto Silva Chagas, mais conhecido como Bebeto Contador, e tenho que dizer o seguinte, e questão de ordenamento, de Administração local, mais lixo, mais barco, só isso, ai toda Ilha fica limpa. Vejam 2007 e 2008 quando fui Subprefeito, era assim que eu fazia, eu quebrava o Pau com o Prefeito na época Fernando Jordão, mais ele me atendia, o resto e blablaba.Na Ilha: tem que gostar, coragem e força para Administrar


  4. Alexandre Oliveira diz:

    Não é novidade que o Saneamento Básico da Ilha Grande é uma tragédia, mesmo com a justiça nos calcanhares das encatarradas autoridades. E preparem-se todos para a armadilha em que nos meterão: o governo do estado estuda a entrega do Parque Estadual da Ilha Grande (PEIG) à iniciativa privada, via Parceria Público-Privada. Para tanto, já arrumou grana com o Banco Mundial para dar um banho de loja na Vila Abraão ao custo de R$ 28 milhões, que sairão de nosso bolsos. Em que pese a necessidade de pelo menos parte dessas obras, o cenário mais provável é as obras serem realizadas, haver uma melhora substantiva na qualidade de vida local e o PEIG, ao ser entregue a um dos apaniguados do rei (assim como foi com a CCR Barcas, as estradas, a ponte Rio Niterói, a AMPLA, os ônibus coletivos, etc), no início nos venderão óculos cor-de-rosa emoldurados por uma bela catraca. Por algum tempo, tudo parecerá uma maravilha, até que os serviços públicos comecem a decair de qualidade por falta de manutenção, turbinado pelo aumento dos preços cobrados pela concessionária, que irá sempre querer aumentar o fluxo de visitantes para garantir lucratividade no seu negócio. Nesse período ninguém vai chiar, até que a sustentabilidade do conjunto comece a derreter. Com a volta da dor, começará tudo de novo, como se fosse a primeira vez, como sempre. Vejam o que está acontecendo em Fernando de Noronha, onde lá, até nascer tem sido proibido.


  5. Rafael CR Souza diz:

    O que se vê em Abrãao está respingando nas outras praias como tive a oportunidade de ver na praia de Palmas. O excesso de lixo também amontoado e número enorme de pessoas (não há limite) em uma praia relativamente pequena. Mesmo em praias com a visitação restrita acredito que tenham tido o mesmo problema.


  6. George diz:

    Realmente, o lixo está um nojo. Mas o pior cheiro vem dos rios da Vila do Abrãao, que nesta época, todo ano, viram valões negros de esgoto in natura. Sim, porque a Ilha Grande até hoje não tem saneamento básico.

    Cinco horas sem luz? Este ano, na verdade, foi o melhor de anos recentes, graças a crise. Veio menos gente, e quase não faltou luz. Há dois anos foram 17 dias sem luz, num verão em que o Governo deixou dragar o porto de Sepetiba e despejar os dejetos perto da Ilha Grande, transformando o mar todo num início de Guanabara. Assim tratam a Ilha Grande.

    "Transporte marítimo desregrado"? Muito pior são os navios de cruzeiro. Um deles traz mais gente do que todas as barcas e saveiros juntos. Como é que se permite despejar 3000 pessoas por dia numa vila de 2000 habitantes, já cheia de turistas, e sem estrutura para lidar com o lixo gerado? Numa Ilha sem estradas. quase virgem, que é quase toda uma UC de proteção integral? Se fosse em Noronha ou na Ilha do Cardoso haveria uma gritaria geral…