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Os limites ecológicos nas eleições

A prosperidade econômica sobre a qual Dilma Rousseff faz sua campanha precisa ter em consideração a contabilidade dos recursos naturais. 

30 de setembro de 2010 · 14 anos atrás

 A candidata do atual governo do Partido dos Trabalhadores (PT), Dilma Rousseff, que deverá vencer com larga vantagem no primeiro turno das eleições presidenciais, tem supervalorizado o prospecto de um contínuo desempenho econômico robusto do Brasil. Com políticas que focam na suavização do caminho para a indústria e contando com os lucros derivados da exploração de petróleo, ela tem expressado confiança de que os atuais 7% de taxa de crescimento possam vir a ser encarados não como um alto nível passageiro, mas como o novo índice normal.

No entanto, para o Brasil desfrutar dessa prosperidade contínua o país deve proteger um patrimônio-chave que o tem ajudado a consolidar seu crescente posicionamento favorável perante o mundo: sua vasta riqueza ecológica.

Desenvolvimento e prosperidade são objetivos respeitáveis. Tirar as pessoas da pobreza, criar oportunidades e minimizar a desigualdade entre ricos e pobres estão claramente entre as propostas mais importantes de um governo. A questão central aqui é levar em conta as restrições quanto aos recursos disponíveis e a biocapacidade — senão a prosperidade será de curta duração e sujeita a uma reversão. Um desenvolvimento que segue uma trajetória de sustentabilidade produz uma clara situação de vitória: para a economia, para o meio ambiente e para um bem-estar de longo prazo para a população.

Na Global Footprint Network, abordamos líderes com uma mensagem simples: manter a riqueza natural não é algo que devam fazer para o bem de outros países, mas para seu próprio. Em nenhum lugar isto é mais verdadeiro do que no Brasil. Com sua economia em franco crescimento e população idem, o país chega a uma importante encruzilhada. Será que crescerá numa direção que preserve um de seus bens mais valiosos? Ou será que colocará tal patrimônio em risco?

Como leitores anteriores desta coluna saberão, a pesquisa da Global Footprint Network acompanha o suprimento da natureza em face à demanda humana da mesma maneira que uma conta de banco monitora a renda versus gastos. Nós comparamos a Pegada Ecológica de um país — a quantidade de área de terra necessária para produzir os recursos que a população consome e absorver suas emissões de dióxido de carbono — com sua biocapacidade, a quantidade de recursos que uma região (ou mundo) é capaz de produzir.

O Brasil possui o maior balanço positivo entre a quantidade de recursos que seus ecossistemas produzem e a quantidade que sua população exige para seu uso. Sua riqueza natural também dá suporte a uma parte crítica da sua economia: a agricultura é responsável por cerca de 6% de seu PIB e 36% de suas exportações. Mesmo assim, essas reservas não são ilimitadas. A quantidade de biocapacidade disponível por habitante tem diminuído constantemente nas últimas quatro décadas, com a distância entre sua “pegada” e a biodiversidade se estreitando para menos da metade do que era em 1961. O Brasil não está sozinho nestas tendências. Muitos países pelo mundo testemunharam seus antigos e vastos excedentes ecológicos encolherem até quase sumirem. O Equador é um país da Bacia Amazônica que recentemente resolveu agir para reverter essa tendência, seu Plano Nacional passou a requer a manutenção dessa “pegada” dentro da sua biocapacidade até 2013.
 
Ficar acima do vermelho em ecologia requer um cuidadoso gerenciamento do patrimônio ecológico. Isso inclui levar em conta recursos em regiões onde eles nem sempre foram considerados. A infraeestrutura é um exemplo-chave. A ex-ministra Dilma Roussef ajudou a lançar o PAC — o Programa de Aceleração do Crescimento do Brasil — promovendo o investimento nas áreas da habitação e em recursos energéticos e hídricos. Tal infraestrutura possui uma longa vida útil e escolhas mal feitas podem aprisionar a sociedade num caminho de intensa demanda por recursos por muitas décadas. À medida que o Brasil procura destinar somas significativas na expansão do PAC e construir a próxima geração da infraestrutura, seus líderes precisam considerar se estão investindo em oportunidades que são sustentáveis no longo prazo ou em armadilhas de recursos que tornarão tal desenvolvimento difícil.

Como um campeão de crescimento econômico, esperamos que a nova liderança do Brasil mantenha um controle sobre seu balanço fiscal. Não se deve dispensar uma atenção menor ao gerenciamento do patrimônio ecológico do país.

É justo pressupor que uma trajetória descendente do PIB faria com que consultores trabalhassem noite adentro no desenvolvimento de estratégias para reverter tal tendência. Da mesma forma, ter acesso a uma métrica sólida no que diz respeito à contabilidade dos recursos naturais, ajudará os líderes do Brasil a navegar por entre algumas das duras escolhas de recursos que terão de enfrentar nos anos vindouros. Se a nova administração quer ter sucesso na sua promessa de proporcionar uma melhor qualidade de vida para o cidadão brasileiro, precisará fazê-lo de forma a proteger os bens subjacentes que são a base da sua economia — e o bem-estar de toda a sua população.

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