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Favelas, hora de dar a volta por cima

A favelização do Rio de Janeiro e de boa parte das cidades brasileiras continua avançando. Mas a queda do crescimento da população tira o impulso do fenômeno.

9 de novembro de 2005 · 18 anos atrás
  • Eduardo Pegurier

    Mestre em Economia, é professor da PUC-Rio e conselheiro de ((o))eco. Faz fé que podemos ser prósperos, justos e proteger a biodiversidade.

O Rio de Janeiro se gaba de ser a cidade com a maior floresta urbana do mundo. Por outro lado, é campeã de favelização, que cresce pelas encostas comendo o verde pelas beiradas. É preciso decidir qual o campeonato a ganhar: o da conservação ambiental e da qualidade de vida ou o da multiplicação da pobreza e dos guetos. A corrida é contra o tempo. Um em cada três habitantes da cidade mora em favela ou loteamento ilegal. As favelas crescem 2,4% ao ano, ou oito vezes mais rápido que a cidade formal, que cresce 0,3% ao ano.

Em parte, o que acontece no Rio é a parte mais visível de um fenômeno brasileiro. Em 1980, 126 municípios brasileiros (3,1% do total) tinham favelas. Em 1991, o número tinha crescido para 209. O crescimento que se segue é vertiginoso. No censo divulgado pelo IBGE em abril de 2001, havia favelas em 1.542 municípios (28% do total). Elas estavam presentes em todos os municípios com mais de 500 mil habitantes.

Uma das causas do problema é simples: nos últimos 50 anos o Brasil passou de país rural a urbano. Em 1950, mais de dois terços da população brasileira vivia no campo. Entre a década de 60 e 70, a população urbana ultrapassou a rural. Em 1970, 56% da população vivia nas cidades. Na virada para o século XXI, 81% dos brasileiros eram urbanos. Se Europa, Estados Unidos e até a Argentina forem exemplos, o número deve estacionar pouco acima de 90%.

Uma mudança tão rápida só podia dar em encrenca. A história tem outros exemplos. A Inglaterra na primeira metade do século XIX, durante a Revolução Industrial, passou por algo parecido. Inchada com a migração do campo, a Londres dessa época era cheia de cortiços, a criminalidade era alta e a poluição do ar insuportável. Os livros de Charles Dickens narram com eloqüência e pessimismo esse momento histórico, que acabou revertido pela mesma onda que o gerou. Dessa vez, na forma de prosperidade.

Não é agradável pensar que estamos atrasados pelo menos um século. Mas é bom saber que é possível dar a volta por cima. Uma das razões é que a urbanização costuma reduzir o crescimento populacional. De fato, isso está acontecendo no Brasil. Na década de 60, a população crescia a 2,9% ao ano, uma velocidade em que dobra a cada vinte anos. Felizmente, o ritmo vem caindo. Na década de 90, a população cresceu a taxa de 1,63% ao ano. Entre 2000 e 2020, o IBGE projeta um aumento populacional de, em média, 0,71% ao ano. É uma freada radical.

Por isso, voltando ao Rio, temos motivos para ser otimistas. A tabela abaixo mostra a evolução do número de habitantes nas favelas cariocas. Em 1950, o número de habitantes era de 170 mil. Em 1960, havia chegado a 335 mil habitantes, ou quase o dobro. Até 1970, o aumento foi de 66% e, a partir daí, caiu para menos da metade. Entre 1970 e 1980, o aumento foi de 29%, caindo nas duas décadas seguintes para cerca de 23%.

O que acontecerá daqui pra frente, não será mais movido a um incontrolável crescimento populacional nem a uma irreversível e dramática urbanização. Vai depender da qualidade das políticas públicas que incentivem que a cidade formal absorva as favelas.

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