Cingapura é um país-ilha, ou uma cidade-Estado, que atingiu fantástico sucesso econômico e social apesar de ocupar uma área de apenas 710 km2, cerca de 60% daquela ocupada pelo município do Rio de Janeiro. Tem a 3ª maior renda per capita do mundo e o 26º lugar no índice de desenvolvimento humano, logo atrás de Luxemburgo. Mas não importa quão bem essa ilha de 5 milhões de habitantes for gerida, sempre terá um calcanhar de Aquiles: lá falta água.
Cingapura está situada 1 grau ao norte do equador e tem clima tropical, portanto, abundante em chuvas, que amontam a 2.340 mm por ano. Porém, seu subsolo não armazena água suficiente para as necessidades da população, o que a torna ao mesmo tempo vulnerável a enchentes e a escassez de água potável.
A solução histórica foi importar água da Malásia, através de tubulações que formam aquedutos, ligando a ilha ao seu vizinho continental pelo Estreito de Johor. O acordo entre os dois governos garantia a Cingapura água barata, até que a Malásia começou a falar em aumentar o preço do abastecimento em até quinze vezes.
Como essa dependência sempre incomodou, os planejadores de Cingapura estão engajados há décadas em planos para reduzir a quantidade de água importada. Eles envolvem usinas de dessalinização, reutilização de água de esgoto e grandes reservatórios construídos para capturar a água da chuva. A Marina Barrage foi o 15º reservatório a ser inaugurado e o mais integrado à vida da população.
A Marina Barrage fica no centro da cidade-Estado e tem um espelho d’água com área de 10 mil hectares, o equivalente a um sexto do território de Cingapura. Aliás, a soma de todos os reservatórios do país equivale a dois terços de sua área total. A barragem de 350 metros que a delimita foi inaugurada em 2008. Desde então, a água salgada foi paulatinamente expulsa por água de chuva, até que em 2010 o reservatório foi declarado de água doce, capaz de suprir 10% da necessidade de água local.
Os Cingapurianos não pensaram pequeno, a Marina Barrage tem outras utilidades. Uma delas é ajudar a resolver o problema das enchentes. Quando cai uma chuva torrencial, a barragem deixa passar o excesso de água para o mar. Se a maré estiver cheia, ela conta com poderosas bombas que são capazes de também devolver ao mar a chuva que sobra e mantêm uniforme o nível do reservatório. Boa parte da eletricidade que as instalações consomem é gerada por uma usina de energia solar que fica ao lado.
Por fim, tornou-se também uma das áreas de lazer favoritas da população, que gosta de passear pela ponte que cobre a barragem e apreciar o lago, onde se prática vela, caiaque e outros esportes náuticos. O belo prédio central, onde ficam abrigadas as bombas d’água, é uma atração em si próprio. Ele tem um telhado verde – recoberto por grama – e oferece restaurantes e áreas de lazer.
Em 2061, expiram os acordos de suprimento de água potável com a Malásia.. Até lá, Cingapura quer ser autossuficiente. Espera que seu suprimento de água venha 40% da reutilização, 30% de dessalinização e 20% dos enormes reservatórios de água de chuva. Se conseguir, demonstrará mais uma vez, com essas formas de reciclagem, que um país pequeno e pobre em recursos naturais pode prover um dos melhores padrões de vida do mundo.
ONU aponta desafio no uso da água na agricultura
Ensaio fotográfico: Água potável é ouro no Haiti pós terremoto
Conheça a pegada hídrica do Brasil
Leia também
Número de portos no Tapajós dobrou em 10 anos sob suspeitas de irregularidades no licenciamento
Estudo realizado pela organização Terra de Direitos revela que, dos 27 portos em operação no Tapajós, apenas cinco possuem a documentação completa do processo de licenciamento ambiental. →
Protocolo estabelece compromissos para criação de gado no Cerrado
Iniciativa já conta com adesão dos três maiores frigoríficos no Brasil, além de gigantes do varejo como Grupo Pão de Açúcar, Carrefour Brasil e McDonalds →
Com quase 50 dias de atraso, Comissão de Meio Ambiente da Câmara volta a funcionar
Colegiado será presidido pelo deputado Rafael Prudente (MDB-DF), escolhido após longa indefinição do MDB; Comissão de Desenvolvimento Urbano também elege presidente →