Butantã é alvo de polêmica operação urbana

Dúvidas sobre os benefícios

Com tantos ‘obstáculos’, o túnel-avenida proposto, teve ao menos o mérito de despertar a população local para o debate sobre o futuro dos bairros. “Não sei qual benefício esse túnel traria para os moradores”, resume o servidor público aposentado Nilson Destro, morador do Jd. Bonfiglioli há 21 anos.

Sua posição parece ressoar a da maioria dos afetados pela operação urbana. Assim como outros frequentadores da ameaçada Praça Elis Regina – local que desapareceria segundo os planos urbanísticos –, Destro utiliza outras vias para realizar o mesmo trajeto que o túnel-avenida cumpriria. “Este é o melhor lugar que temos para caminhar por aqui”, aponta o aposentado, enquanto passeia com seu cão de estimação.

A relativa dificuldade de representantes do poder público de explicar os planos para os moradores da região, e também de compreender e respeitar suas posições, levou a Justiça a determinar, em novembro de 2011, a pedido do Ministério Público, a suspensão de “toda e qualquer tramitação administrativa ou legislativa” relacionada à operação.

A medida liminar pede “a efetivação da participação da população e de associações representativas dos vários segmentos da comunidade na formulação, execução e acompanhamento de planos, programas e projetos de desenvolvimento urbano” para a região.

Assim, desde então, a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano (SMDU), responsável pelas operações urbanas na cidade, busca planejar e promover o envolvimento da população na retomada do projeto. Por meio da assessoria de imprensa, a SMDU informa que “o plano urbanístico da OUCVS não está concluído”, e que a secretaria “considera essencial a participação da sociedade no desenvolvimento do projeto”.

Mapa coletivo do Butantã

Historicamente habitado por um grande número de estudantes, professores e pesquisadores do campus central da Universidade de São Paulo (USP), o Butantã reúne grande potencial para a implantação de um diálogo diferenciado na cidade. Além de possuir esse capital social, e de estar na pauta da prefeitura por conta da OUCVS, o bairro começa a receber investimentos mais vultosos na modernização de sua infraestrutura urbana, especialmente motivados pela chegada do sistema de metrô à região, há cerca de dois anos, e pelo consequente aumento do interesse imobiliário na área.

A facilitação da ligação viária entre o Butantã e a Vila Sônia é necessária e está nos planos da população e da prefeitura de São Paulo há muitos anos. Quem circula na região sabe que um trajeto mais simples agilizaria bastante a realização de um percurso de cerca de 1 km, sentido norte-sul, hoje dificultado pela passagem da rodovia Raposo Tavares e pela inexistência de rota de transporte público adequado.

Criador do mapa coletivo ‘Interesses Butantã e arredores’, o educador multimídia Renato Farias sempre morou e estudou na região, e transita diariamente entre sua casa, próxima ao estádio do Morumbi, e o local de trabalho, no campus da USP. “Eu acharia muito melhor vir direto da Francisco Morato para a USP, mas tenho certeza que esse túnel-avenida não é a melhor solução”, opina.

A partir do georreferenciamento de informações, Renato espera “mapear tudo que seja de interesse para o bairro e promover a mobilização e a articulação dos moradores em torno dessas questões”. “Se as pessoas se apropriarem da ferramenta, podemos fazer várias coisas, além de reivindicar melhorias”, comenta Renato, que trabalha formando professores na utilização de computadores como plataforma didática em sala de aula.

A ideia que Renato colocou em prática pode trazer resultados em curto prazo, na medida que, segundo a assessoria da SMDU, os técnicos da secretaria começarão “em breve” a revisar o EIA-Rima (estudo de impacto ambiental e relatório de impacto ambiental) da operação.

Indeferido pelo Cades (Conselho Municipal do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável) em 2008, o estudo apresentava uma quantidade relevante de lacunas, e sua revisão é uma boa oportunidade para a continuidade do diálogo entre o poder público e a população, em bases técnicas.

Para conhecer as opiniões de outros moradores e frequentadores da praça Elis Regina sobre a OUCVS e o túnel-avenida, visite os pontos georreferenciados no  mapa coletivo ‘Interesses Butantã e arredores’.

Veja vídeo dos moradores do bairro sobre o Parque da Previdência e a Praça Elis Regina (postado por Renato Farias no mapa Interesses do Butantã e Arredores).

* Texto publicado em parceria com o Mapas Coletivos.