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Mudanças climáticas podem ter causado baixa reprodução do papagaio-de-cara-roxa

Resultados do período reprodutivo da ave, entre outubro de 2018 a março de 2019, foram os menores já registrados no litoral do Paraná

Sabrina Rodrigues ·
28 de fevereiro de 2019 · 5 anos atrás
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Sua porção fresquinha de informações sobre o meio ambiente
Durante o monitoramento, os técnicos do Projeto registraram a primeira utilização de ninho artificial por papagaios-de-cara-roxa no litoral de São Paulo. Foto: Zig Koch.

O papagaio-de-cara-roxa (Amazona brasiliensis) tem superado a diminuição da sua espécie graças a incessantes programas de conservação, mas parece que agora está enfrentando outro problema: as mudanças climáticas. Esses fatores podem estar influenciando no baixo índice de reprodução dessas aves. Quem diz isso são os pesquisadores do Projeto de Conservação da espécie, da Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS).

A equipe, no Paraná, registrou e acompanhou a postura de 120 ovos, nos 75 ninhos ocupados da espécie, durante o período de outubro de 2018 a março de 2019. Os técnicos do projeto observaram que o êxito reprodutivo (o número que indica quantos filhotes conseguiram se desenvolver e alçar voo) foi o menor registrado no litoral do estado. Dos 53 filhotes nascidos, apenas 20 alcançaram o sucesso reprodutivo.

Segundo Elenise Sipinski, coordenadora do Projeto, a variação na taxa de sucesso reprodutivo é normal e esperada, mas o clima pode ter influenciado bastante para os baixos números da temporada: “Nesta região tivemos um inverno muito quente, mas em compensação, entre os meses de outubro e novembro tivemos dias frios, com temperaturas abaixo de 20 graus, o que acabou atrasando o início do período reprodutivo do papagaio-de-cara-roxa. Além disso, com o nascimento tardio, o calor intenso do verão prejudicou o desenvolvimento dos filhotes e, consequentemente, afetou o sucesso reprodutivo. Os filhotes também apresentaram um alto índice de ectoparasitas”, analisa a pesquisadora.

Elenise não descarta outras pressões externas como captura de ninhos para venda ilegal de filhotes para o tráfico de animais.

Endêmica da Mata Atlântica, mais especificamente entre o litoral de São Paulo e Paraná, a Amazona brasiliensis já viu o seu nome figurando, entre os anos de 1994 a 2004, na lista vermelha da IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, em Inglês) como “Em Perigo”. Isso em razão do desmatamento, da destruição do seu habitat que são as árvores e ainda da captura clandestina de filhotes e adultos para o comércio ilegal.

A partir de 2004, o papagaio-de-cara-roxa passou a ser classificado como “Vulnerável”, mas foi somente no final de 2017 que passou para a categoria “Quase Ameaçada” da IUCN, posição menos preocupante que a anterior. (Entenda a classificação da Lista Vermelha da IUCN).

Mesmo tendo o êxito reprodutivo baixo nesta temporada, os números do aumento populacional do papagaio-de-cara-roxa são animadores. O último censo da ave foi feito em 2018 pela SPVS e registrou uma população de 9.112 aves. Em 2017, o número era de 7.339. Em 2003, quando o censo anual começou a ser realizado, a população era de apenas 3 mil indivíduos.

Ninhos artificiais

Em 2003, a SPVS iniciou, no Paraná, a colocação de ninhos artificiais para facilitar a reprodução segura de filhotes. Esses ninhos são colocados no topo das árvores. Essa atividade visa suprir a falta de ocos formados nos troncos, e que normalmente, são utilizados como ninhos pelos papagaios-de-cara-roxa. Já são 120 ninhos artificiais instalados em áreas utilizadas pelos papagaios para a reprodução. Em São Paulo, a atividade começou em 2006 e tem 20 ninhos desses.

Mas a notícia mais recente e positiva para os pesquisadores veio do litoral paulista onde os técnicos do projeto puderam registrar a primeira utilização de ninho artificial por papagaios-de-cara-roxa no litoral. “Embora os primeiros ninhos artificiais tenham sido instalados há três anos, somente agora, no início de 2019, conseguimos ver um deles sendo usado. Isso demonstra que estamos proporcionando um ambiente seguro e confiável para que a espécie consiga se reproduzir. Nesse ninho em específico registramos o nascimento de dois filhotes”, comemora Rafael Sezerban, técnico que acompanhou e registrou os nascimentos.

 

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  • Sabrina Rodrigues

    Repórter especializada na cobertura diária de política ambiental. Escreveu para o site ((o)) eco de 2015 a 2020.

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