Análises

Sobrou para o Trem do Corcovado

Após o dilúvio, os desmoronamentos e as mortes no Rio, chegou a vez dos bodes expiatórios. Moradores depredaram um dos trens que há mais de um século ligam o Cosme Velho ao Cristo Redentor.

Redação ((o))eco ·
9 de abril de 2010 · 14 anos atrás

Depois do dilúvio, dos desmoronamentos e das mortes que assolaram o Rio de Janeiro nas últimas horas, chegou a vez dos bodes expiatórios. Nesse sentido, alguns moradores de comunidades carentes do entorno do Corcovado depredaram ontem um dos trens da linha férrea que há mais de um século liga o Cosme Velho ao mirante da Estátua do Cristo Redentor.

Quebraram uma composição para se vingar da companhia que opera o serviço de transporte ferroviário. Alegam, que para tirar a água dos trilhos, a empresa desvia de forma sistemática os aguaceiros para as encostas situadas a montante da favela, favorecendo o desmoronamento sempre que há chuvas mais fortes. Registre-se, contudo, que a acusação é terminantemente negada por Sávio Neves, Presidente do Bondinho.

Verdade ou não para o caso específico das encostas do Corcovado, o problema do manejo desautorizado das águas do Parque Nacional da Floresta da Tijuca é generalizado em todas as encostas dessa Unidade de Conservação.

Favelas, lava jatos, casas de bacanas e quetais roubam impunemente as águas da Tijuca há mais de 30 anos, causando ressecamento e aumento da incidência de incêndios em suas bordas, mudanças nos padrões hídricos e impactos nas movimentações de fauna e na incidência de espécies de flora (vide minha coluna Água de Quem? Publicada em OECO em 3/12/2004). Resolver esse drama passa sim por fiscalizar o trem do Corcovado, mas se formos mexer nesse vespeiro é preciso levar em conta que, ademais da própria localização de muitas favelas em áreas de proteção ambiental (em flagrante delito à legislação e à própria segurança dos moradores) os desvios e roubos de água do Parque realizados pelas comunidades acabam por causar malefícios muito mais sérios à preservação.

Quem terá coragem e, sobretudo, força para retirar os encanamentos ilegais que dão vida às favelas? O Parque sozinho com certeza não tem tamanha musculatura. Mesmo se fosse possível acabar com as captações ilegais, a CEDAE seria capaz de suprir as comunidades com água potável da rede formal? Enquanto essas perguntas seguem sem resposta e os desmoronamentos se sucedem, alguém tem que pagar: pau no trem do Corcovado!

Leia também

Notícias
19 de abril de 2024

Em reabertura de conselho indigenista, Lula assina homologação de duas terras indígenas

Foram oficializadas as TIs Aldeia Velha (BA) e Cacique Fontoura (MT); representantes indígenas criticam falta de outras 4 terras prontas para homologação, e Lula prega cautela

Notícias
19 de abril de 2024

Levantamento revela que anta não está extinta na Caatinga

Espécie não era avistada no bioma havia pelo menos 30 anos. Descoberta vai subsidiar mudanças na avaliação do status de conservação do animal

Salada Verde
19 de abril de 2024

Lagoa Misteriosa vira RPPN em Mato Grosso do Sul

ICMBio oficializou a criação da Reserva Particular do Patrimônio Natural Lagoa Misteriosa, destino turístico em Jardim, Mato Grosso do Sul

Mais de ((o))eco

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.