Notícias

Estudo reforça ligação entre estradas e desmatamento na Amazônia

Rodovias abrem caminho para o desmatamento, para cada 1 quilômetro novo de estradas oficiais surgem outros 3 quilômetros de vias clandestinas

Daniel Santini ·
13 de agosto de 2014 · 10 anos atrás

A relação entre a abertura de estradas e desmatamento na Amazônia brasileira é conhecida desde a abertura da BR-230, a Transamazônica, estrada inaugurada na década de 1970 e tida como um dos projetos mais polêmicos da Ditadura Militar. A rota, que corta na horizontal a floresta, tornou-se nas décadas seguintes caminho para a devastação de largas áreas até então intocadas (leia artigo em inglês a respeito). A conexão entre novas estradas cortando a floresta e devastação com fogo para abertura de pastos, e/ou extração de madeira não é novidade (clique aqui ou use os mapas que ilustram essa reportagem para navegar na base de dados sobre o tema no Infoamazonia).

Novo estudo recente, publicado no jornal de Conservação Biológica (Biological Conversation), confirma e reforça tal ligação, considerando novos caminhos para a derrubada da mata, com a multiplicação de estradas clandestinas na região. Cruzando imagens de satélite e dados do IBGE, os autores do estudo estimam que para cada quilômetro de estradas oficiais existem cerca de três quilômetros de estradas clandestinas. E apontam que 95% do desmatamento se dá a 5,5 km de estradas ou a 1 km de rios.

Intitulado “Estradas, desmatamento, e o efeito de mitigação de áreas protegidas” (tradução livre do título original em inglês: “Roads, deforestation, and the mitigating effect of protected areas”), o estudo aponta que as áreas de reservas e terras indígenas foram cruciais para conter o desmatamento, em especial onde estradas foram abertas. Mesmo nas estradas oficiais, um problema grave ligado à abertura de estradas na Amazônia é que ela é feita sem nenhum outro acompanhamento do estado, sem criação de bases para fiscalização e infraestrutura básica como escolas e postos de saúde.

O estudo é assinado por Carlos M. Souza Jr., do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), Christopher P. Barber e Mark A. Cochrane, do Centro de Excelência em Ciências Geoespaciais da Universidade de Dakota do Sul, dos Estados Unidos, e William F. Laurance, do Centro de Meio Ambiente Tropical e Sustentabilidade da Universidade James Cook, da Austrália.

Clique aqui para ler o estudo (em inglês) ou veja abaixo duas imagens de satélite selecionadas pelo eco que mostram claramente a relação entre a abertura de estradas e o desmatamento na Amazônia brasileira (clique nas imagens para navegar pelos mapas).

Distrito de Santo Antônio do Matupi, em Manicoré (AM), novo polo de devastação na Transamazônica

Apuí (AM), que há décadas é um polo de desmatamento na Transamazônica 

 

 

Leia também
Cartilha alerta para os perigos da abertura da Estrada do Colono
Interoceanica, asfalto para o ecoturismo e o desmatamento
Mapa relaciona estrada e desmatamento na Amazônia

 

 

 

  • Daniel Santini

    Responsável pela plataforma ((o)) eco Data. Especialista em jornalismo internacional, foi um dos organizadores da expedição c...

Leia também

Notícias
27 de março de 2024

G20 lança até o final do ano edital internacional de pesquisa sobre a Amazônia

Em maio será definido o orçamento; temas incluem mudanças climáticas, risco de desastres, justiça ambiental e conhecimentos indígenas

Colunas
27 de março de 2024

O papel do jornalismo na construção de uma nova mentalidade diante da Emergência Climática

Assumir a responsabilidade com a mudança de pensamento significa assumir o potencial do jornalismo em motivar reflexões e ações que impactam a sociedade

Reportagens
27 de março de 2024

ICMBio tem menos de R$ 0,13 para fiscalizar cada 10.000 m² de áreas protegidas

Acidente com servidores no Amapá escancara quadro de precariedade. Em situação extrema, além do risco de morte, envolvidos tiveram de engolir o próprio vômito

Mais de ((o))eco

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.