Notícias

Surucucu: a Dona da Noite

A surucucu é a maior serpente venenosa do continente americano e uma das maiores do mundo. E como tudo que é grande, está envolta em lenda.

Rafael Ferreira ·
14 de junho de 2013 · 11 anos atrás

A Dona da Noite, à espreita nas matas da Concessão de Conservação Los Amigos em Madre de Dios, Peru. Foto: Geoff Gallice
A Dona da Noite, à espreita nas matas da Concessão de Conservação Los Amigos em Madre de Dios, Peru. Foto: Geoff Gallice

A lenda da tribo Sateré Mawé diz que, depois de criado o mundo, faltou a noite para que pudessem dormir. O índio Uánham, então, decidiu pedir à Surucucu que lhe desse, sabendo que era a Dona da Noite. Levou consigo presentes tentando comprá-la, mas foi recusado repetidas vezes, porque exigiam o uso de pernas e braços, o que a surucucu não tem. Enfim, o índio levou venenos, que a cobra ainda não tinha. Satisfeita, ela lhe concedeu a primeira noite numa cesta, com a recomendação de que só fosse aberta em casa. Uánham desobedeceu a recomendação e a noite escapou.

O índio voltou com mais veneno para Surucucu, em troca da Grande Noite, porque a noite havia sido muito curta. A surucucu, para formar a grande noite, misturou jenipapo com todas as imundícies que encontrou. E é por isso que, quando acordamos, somos letárgicos e temos mau hálito…

Lendas à parte, a surucucu (Lachesis muta) é a maior serpente venenosa do hemisfério ocidental e uma das maiores do mundo, podendo atingir até 4,5m de comprimento e suas presas medem 3,5cm. Pode ser encontrada em toda a América do Sul (incluindo a ilha de Trinidad, na República de Trinidad e Tobago).

No Brasil, habita florestas densas, principalmente na Amazônia, mas há registros de sua presença em áreas isoladas de resquícios de Mata Atlântica dos estados do nordeste, do Rio de Janeiro e do Espírito Santo.

A vocação para mito está até em seu nome científico, Lachesis muta: Lachesis é uma referência a Láquesis, uma das Moiras, as três irmãs da mitológia gregas que decidiam o destino dos seres humanos e deuses. Muta (“muda” em latim) faz referência à vibração da sua cauda que, similar à da cascavel, se diferencia por não ter ruído. Ainda é conhecida por outros nomes, a depender do local: shushúpe (Peru), pucarara (Bolivia), cuaima (Venezuela), verrugoso (Colômbia) e in makka sneki ou makkaslang (Suriname). Aqui, atende por surucucu pico-de-jaca, surucutinga, surucucutinga, surucucu-de-fogo e cobra-topete.

Sua cabeça é larga, se distinguindo do pescoço estreito. O focinho é arredondado. Seu corpo é marrom e marcado com formas losangos marrom-escuros, revestidos por faixas esverdeadas. Sua cauda não tem guizos, como a cascavel, mas quando esfregada contra a folhagem, um pequeno osso que possui no extremo da cauda produz um som. A surucucu dá sinal de que está incomodada: de comportamento agressivo, não aprecia invasores em seu território.

Um animal de hábitos noturnos, se alimenta de pequenos animais e roedores. L. muta é capaz de identificar os animais que caça pelo calor, seguindo o seu rastro térmico. Este acurado sensor de calor é a membrana que reveste internamente as fossetas loreais (orifícios entre as narinas e os olhos). A espécie se reproduz entre os meses de outubro e março. o período de incubação dos ovos é de 76 a 79 dias (em cativeiro).

A Lachesis muta é comum nas suas áreas de ocorrência. Em contrapartida, a Lachesis muta rhombeata, uma subespécie endêmica da Mata Atlântica, caracterizada pelo corpo amarelo com desenhos negros, está ameaçada de extinção. A queda populacional desta subespécie se deve à redução e fragmentação do seu habitat em razão do desflorestamento. Ela está classificada como Vulnerável na Lista Vermelha da International Union for Conservation of Nature and Natural Resources (IUCN).

 

 

 

 

 

Leia também

Notícias
28 de março de 2024

Estados inseridos no bioma Cerrado estudam unificação de dados sobre desmatamento

Ação é uma das previstas na força-tarefa criada pelo Governo Federal para conter destruição crescente do bioma

Salada Verde
28 de março de 2024

Uma bolada para a conservação no Paraná

Os estimados R$ 1,5 bilhão poderiam ser aplicados em unidades de conservação da natureza ou corredores ecológicos

Salada Verde
28 de março de 2024

Parque no RJ novamente puxa recorde de turismo em UCs federais

Essas áreas protegidas receberam no ano passado 23,7 milhões de visitantes, sendo metade disso nos parques nacionais

Mais de ((o))eco

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.