Por volta das 14h desta terça (19), a delegação brasileira concedeu uma coletiva entusiasmada sobre o documento acordado na plenária dos líderes da negociação. Izabella Teixeira, ministra do Meio Ambiente, e André Corrêa do Lago, negociador-chefe da delegação brasileira, comemoraram a vitória: conseguir um texto de consenso dentro do prazo limite de até meio-dia desta 3ª feira (19). O preço foi um documento diluído, que estabelece princípios, mas adia as decisões práticas para 2015, quando serão reavaliadas as Metas do Milênio das Nações Unidas.
Parece milagre. Na quarta-feira passada, quando começou a última reunião do comitê preparatório, três quartos do documento continuava entre colchetes, longe do consenso necessário para sua adoção. O texto só foi fechado na madrugada dessa terça-feira. Agora, está na mão dos chefes de Estado. Amanhã (20), eles assumirão as negociações e podem alterar o texto que foi chamado de final.
Estamos caminhando para a conclusão da Rio+20. O jogo ainda não terminou, mas dificilmente os presidentes, primeiros-ministros e autocratas do mundo tornarão o documento mais ambicioso. Qualquer país, unzinho só, pode arruinar o consenso necessário para uma decisão.
Há grandes divergências em todas as grandes questões. Países em desenvolvimento querem financiamento dos ricos para fazer a transição para economias verdes/sustentáveis; os EUA não aceitam a promoção do PNUMA à agência internacional e independente de meio ambiente; o acordo sobre oceanos, que protegeria águas internacionais, dificilmente será diferente de outra declaração de intenções, já que as nações que pescam em águas internacionais, como o Japão, não irão gostar de restrições rigorosas.
Finalmente, quanto as metas de desenvolvimento sustentável, bem…, estas ninguém sabe o que são. Veja esse trecho do documento apresentado hoje:
“Decidimos estabelecer um processo inclusivo e transparente intergovernamental sobre SDGs [Sustainable Development Goals — Objetivos de Desenvolvimento Sustentável] que está aberto a todos as partes interessadas [stakeholders], com uma perspectiva de desenvolver objetivos globais de desenvolvimento sustentável, que serão acordados na Assembléia Geral da ONU. (texto no original em inglês – We resolve to establish an inclusive and transparent intergovernmental process on SDGs that is open to all stakeholders with a view to developing global sustainable development goals to be agreed by the United Nations General Assembly.) |
Nada mais específico que isso é mencionado no documento. Todas as metas se referem à Agenda 21 ou as Metas do Milênio, produzidas na Rio92. Material velho, olho no retrovisor. Quanto as palavras em itálico acima, alguém consegue imaginar algo mais vazio?
O documento final completo, com suas 49 páginas em inglês, pode ser lido abaixo.
Leia também
Em reabertura de conselho indigenista, Lula assina homologação de duas terras indígenas
Foram oficializadas as TIs Aldeia Velha (BA) e Cacique Fontoura (MT); representantes indígenas criticam falta de outras 4 terras prontas para homologação, e Lula prega cautela →
Levantamento revela que anta não está extinta na Caatinga
Espécie não era avistada no bioma havia pelo menos 30 anos. Descoberta vai subsidiar mudanças na avaliação do status de conservação do animal →
Lagoa Misteriosa vira RPPN em Mato Grosso do Sul
ICMBio oficializou a criação da Reserva Particular do Patrimônio Natural Lagoa Misteriosa, destino turístico em Jardim, Mato Grosso do Sul →