Análises

Invadindo sua paisagem

Milhares de turistas desembarcam no arquipélago português dos Açores em busca das belíssimas paisagens naturais e pastoris. Mas natureza está ameaçada pela expansão de espécies exóticas invasoras.

Pedro da Cunha e Menezes ·
23 de novembro de 2009 · 14 anos atrás

Todos os verões o arquipélago português dos Açores é invadido por uma horda de espécies exóticas. São turistas do continente europeu: alemães, ingleses, suecos, franceses, espanhóis e até mesmo lusitanos. Vêm em busca das belíssimas paisagens naturais e pastoris dessas nove ilhas vulcânicas. Uma das principais atividades dos visitantes é trilhar algumas das picadas açoreanas. Bem sinalizadas e mantidas, essas picadas levam o pitoresco nome de “pequenas rotas” e percorrem os traçados de antigos caminhos rurais usados para o transporte terrestre nas ilhas até muito recentemente.

Trilha da Serreta

Com efeito, a maioria dessas trilhas, como a da Lagoa do Fogo na Ilha de São Miguel e as do Monte Brasil e da Serreta, na Ilha Terceira, são belíssimas e não deixam nada a dever a nenhuma caminhada na Mata Atlântica ou na Floresta Amazônica. O único problema é que a especificidade desses passeios está ameaçada por outro tipo de espécies exóticas invasoras: as vegetais. Como parte da Macaronésia, os Açores hospedam a floresta laurissilva, uma das mais antigas e mais ameaçadas do mundo. Até a última glaciação, ocupava toda a parte sul da Europa. Hoje apenas subsiste nos Açores , na Madeira  e nas Canárias. Mesmo nesses ambientes insulares encontra-se ameaçada.

No caso dos Açores, segundo o pesquisador Eduardo Dias, cerca de metade das 300 espécies nativas do arquipélago, incluindo 80 endêmicas, estão ameaçadas pela expansão descontrolada de 700 espécies exóticas invasoras e pelos pastos cada vez mais abundantes na região que chega a prover o Portugal continental com mais de um terço de suas necessidades de leite e carne. Segundo Eduardo Dias, entre as conseqüencias estão a diminuição da capacidade do solo em reter água, aumento de pragas, perda de biodiversidade e “redução do interesse dos eco-turistas que vêem aos Açores em busca da laurisslva e acabam por caminhar entre pastos e hortências”. O blogueiro esteve na Terceira este fim-de-semana e constatou que o botânico tem razão, há exóticas por todo o lado. Ainda assim, por mais que concorde com o apelo urgente de Eduardo Dias para que o Governo “introduza na agenda política, de uma forma visível e forte, a proteção da biodiversidade” e tenha consciência do pecado que estou escrevendo, gostei. É que as paisagens são efetivamente espetaculares!

Algar do carvão e Serra do Cume

Leia também

Notícias
24 de abril de 2024

Na abertura do Acampamento Terra Livre, indígenas divulgam carta de reivindicações

Endereçado aos Três Poderes, documento assinado pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) e organizações regionais cita 25 “exigências e urgências” do movimento

Reportagens
24 de abril de 2024

Gilmar suspende processos e propõe ‘mediação’ sobre ‘marco temporal’

Ministro do STF desagrada movimento indígena durante sua maior mobilização, em Brasília. Temor é que se abram mais brechas para novas restrições aos direitos dos povos originários

Notícias
24 de abril de 2024

Cientistas descobrem nova espécie de jiboia na Mata Atlântica

A partir de análises moleculares e anatômicas, pesquisadores reconhecem que jiboia da Mata Atlântica é diferente das outras, e animal ganha status de espécie própria: a jiboia-atlântica

Mais de ((o))eco

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.