Análises
31 de janeiro de 2005

Resposta ao presidente da FEMERJ

De Pedro P. de Lima-e-SilvaEngenheiro AmbientalServico de Segurança Radiológica e AmbientalComissão Nacional de Energia NuclearSrs.A digressão sobre ética do Sr. Bernardo Collares Arantes (carta publicada abaixo), Presidente da FEMERJ, contradiz os fatos.Se a questão foi discutida tanto na lista da FEMERJ, como ele mesmo admite, não é estranho não ter havido nenhuma reação de repúdio ou de explicação de nenhum dos membros da FEMERJ, seu presidente Bernardo Collares Arantes à frente, às mensagens das pessoas que se propuseram a detonar o totem, a não ser uma resposta burocrática, como se para apenas se precaver contra futuras acusações? Se a FEMERJ, com seu presidente Bernardo Collares Arantes, tem tanta preocupação assim como sugere o eminente advogado, por que a diretoria da FEMERJ, incluindo o missivista, ouvindo as mensagens trocadas, não se revoltou de imediato, mostrando a lei, contra uma proposta evidentemente ilegal de detonar uma parte de uma montanha que é patrimônio nacional? Por que se calaram diante do caminho evidente que o processo estava tomando? Seria o silêncio conveniente? Por que não alertaram os autores e os cúmplices que poderiam ser processados pelo Ministério Público pelo que ameaçavam fazer?Da mesma forma que havia alpinistas falando da propalada possível queda das pedras, havia muitos outros falando que elas sempre estiveram sólidas. Sobre o laudo da GeoRio que agora pode ser que apareça, pois na época não foi divulgado apesar de pedidos insistentes na própria lista de discussão, um professor de geografia da PUC afirmou de forma muito simples que "todas as pedras um dia vão cair, a menos que se revogue a lei da gravidade". Então que se detonem também as encostas do Corcovado, e de quase todas as montanhas que escalamos. Se a GeoRio é chamada, o que dirá ela sobre pedras fisicamente separadas da rocha matriz? Que elas podem cair? Por que nenhuma universidade do Rio, como a UFRJ ou a PUC, onde se encontram especialistas vários sobre encostas e deslizamentos, não foram consultadas? Por que os órgãos responsáveis como o IPHAN e o CML não foram consultados pela FEMERJ? Por que os órgãos ambientais não foram contactados pela FEMERJ sobre o problema?Há mais um agravante: mesmo admitindo a improvável verdade de que havia risco iminente de queda das pedras, já que as pedras não se moviam mesmo com a aposição de peso considerável, havia tecnicamente inúmeras soluções para fixar as pedras no lugar com impactos ambientais desprezíveis. Uma consulta a eminências em estruturas sobre rochas no Brasil que labutam nesta cidade podem atestar sobre isso.Então os fatos contradizem toda a lenga-lenga sobre ética e moral. A ética e a moral são constantemente usadas pelas pessoas para deixar fazer as coisas que são exatamente contra a ética e a moral. Parece que mais pessoas leram O Príncipe, de Machiavel, do que supõe a venda nas livrarias. Assim como se usam os argumentos de lutar pela paz para fazer a guerra, ouve-se na lista da FEMERJ as mensagens de regozijo pelo crime ambiental cometido. Há várias mensagens, até de pessoas que ocuparam cargos públicos, justificando o crime pelo velho argumento de que se o governo não faz, então que façamos nós. No velho far-west também era assim, e parece que no Rio de Janeiro isso vem voltando à moda nos últimos anos. Há uma mensagem, em especial, falando que esperar por atitudes da GeoRio seria até um erro, porque a GeoRio, segundo o associado, só faz coisas "horrorosas" nas encostas da cidade. Mais bonito deve ser destruir um lance de pedras que está ali há pelo menos milhares de anos, não é não? Sendo o Sr. Bernardo Collares Arantes, presidente da FEMERJ, o que já se justificaria por si só como conhecedor da lei, mas ainda por cima tendo a profissão de advogado, deveria ele ter se calado emitindo apenas uma resposta burocrática diante das discussões sobre detonar um patrimônio?Uma última questão coloca em cheque essa alegação burocrática de ética e moral: segundo as mensagens da lista da FEMERJ, inclusive com confirmação e confissão de autoria, havia quatro pessoas que foram os perpetrantes de manobra covarde, que foram inclusive avistadas por um dos associados que subia logo depois deles. Dessas pelo menos quatro pessoas, estava uma senhora que fazia parte da FEMERJ então. As palavras nas mensagens do Sr. Tonico, réu confesso na lista, são contundentes: "matamos dois coelhos com uma cajadada só, acabamos com o risco de queda das pedras e reduzimos a quantidade de pessoas subindo o Costão."Sobre a afirmação de que houve "pouca diferença" entre o grau de dificuldade da via, um sofisma que não se sustenta: a quantidade de pessoas que com o apoio de um escalador podem vencer um lance de 1o grau é virtualmente infinita, porque qualquer pessoa com uma atividade física usual pode subir um lance de 1o grau, mesmo sem ajuda nenhuma. Já um lance de 2o sup ou 3o grau, e regrampeado para impedir o uso dos grampos como apoio para a subida, reduz esse número em várias ordens de grandeza. Se não fosse assim, muito provavelmente as pedras não teriam sido destruídas. Os argumentos do Sr. Bernardo Collares Arantes não batem com os fatos: veja-se a freqüência atual contra a freqüência anterior e constate-se o inevitável. Se não há, e eu não tenho certeza disso, uma prova cabal de que o objetivo escuso da derrubada das pedras era a elitização da via, então com certeza o resultado prático do ato ilícito foi essa redução!Mais: o Costão ser classificado como uma escalada é brincadeira: a via tem 600 metros de caminhada e [tinha] 12 metros de trepa-pedra de 1o grau, que qualquer pessoa minimamente saudável pode ultrapassar. Meu primeiro Costão foi há 39 anos atrás acompanhado de toda a minha turma de garotos de 11 anos de idade do colégio, e apenas dois guias, sem nenhum risco relevante. Mais tarde, já como montanhista de clube, eu e meus amigos levamos ao Costão desde crianças de 3 anos até senhores de 65 anos, o que hoje já se tornaria uma operação bem mais complicada e arriscada.A publicação subseqüente no jornal O Globo de uma reportagem com o Sr. Bernardo Collares Arantes, contradiz suas próprias palavras de que não há diferença praticamente de grau de dificuldade; ela é eloqüente por si mesma:"— Isso quer dizer que há mais riscos. Uma pessoa despreparada pode cair e se machucar ou eventualmente até morrer. Queremos alertar para esse fato porque não queremos acidentes. Agora, é necessário que as pessoas que não sabem escalar contratem um profissional ou uma empresa que faça o passeio dentro dos padrões de segurança, usando equipamentos — disse Bernardo Collares." [O Globo, 30/01/2004].O Sr. Bernardo Collares Arantes estava certíssimo. Logo depois de ele afirmar isso houve dois acidentes no Costão, via que estava há décadas sem acidentes. Pior, a declaração dele no jornal ainda suscita dúvidas mais pitorescas, para dizer o mínimo: poderiam ter sido derrubadas as pedras como reserva de mercado? E se não há provas de que o foram, certamente o resultado assim se deu, como aliás, afirmam as próprias palavras do Sr. Bernardo Collares Arantes, presidente da FEMERJ.À parte toda a discussão quase semi-inútil, não resta o silêncio: resta o fato de que algumas pessoas, associadas da lista da FEMERJ, montanhistas "de carteirinha", acompanhados de pessoas da FEMERJ ou muito próximas à diretoria da FEMERJ, perpetraram um crime partimonial e ambiental, usando de argumentos questionáveis, decidindo de foro pessoal pela destruição de um patrimônio público, debaixo dos olhos e ouvidos da FEMERJ, que se não tem culpa direta no ato ilícito, na melhor das hipóteses proporcionou o meio e um caldo cultural de ilicitude, e não produziu nenhuma reação sequer em busca das leis de defesa do patrimônio ou do ambiente. Saiu correndo para "regrampear a via", talvez porque a grampeação original ainda não aumentava o grau de dificuldade até o ponto alto o suficente para causar uma redução correspondentemente forte do fluxo de usuários. Com certeza vão dizer que a regrampeação é para dar mais segurança à via de escalada, segundo os padrões de ética do alpinismo. Incrível coincidência, a nova regrampeação aumenta o grau de dificuldade da via...Se a FEMERJ tem de fato tantas preocupações assim com a ética e a moral, então não poderia deixar de acionar reações legais para proteger o meio ambiente de crimes arbitrários de pessoas que se julgam donas de patrimônios públicos, em vez de ficar ameaçando aqueles que denunciam os crimes contra a Natureza. Está tudo de cabeça para baixo. Um crime foi cometido, eu e outros se indignaram, mas a FEMERJ está preocupada em nos calar, não com o crime! Estranho país esse.abs,

Por Redação ((o))eco
31 de janeiro de 2005
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31 de janeiro de 2005

Investimentos de gigante

A Petrobrás vai abrir a carteira. Tem planos de realizar investimentos no setor petroquímico nos próximos anos cujo valor total encosta nos 10 bilhões de dólares. Vai beneficiar seis estados brasileiros e incluem tanto projetos próprios como parcerias com outras empresas. A notícia está no Valor (só para assinantes).

Por Manoel Francisco Brito
31 de janeiro de 2005
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31 de janeiro de 2005

União pela biodiversidade

Mil e duzentos cientistas reunidos em Paris numa conferência internacional endossaram proposta do governo francês em favor da criação de um banco de dados e conhecimento sobre a biodiversidade na Terra. O encontro, batizado de “Biodiversidade: ciência e governança”, teve a presença inclusive das grandes empresas farmacêuticas mundiais e de representantes de governo. O Le Monde reconhece que não será fácil fazer a idéia decolar. Há muitas questões a serem resolvidas em torno do tema. Como disse um representante da indústria de remédios, o conhecimento da biodiversidade envolve propriedade intelectual e o domínio de nações sobre espécimens da fauna e da flora em seus territórios. Ainda assim, os cientistas acham que é possível fazer a coisa decolar. Citaram inclusive a existência de algo semelhante em relação às questões climáticas. Trata-se do Grupo Intergovernamental sobre a Evolução do Clima, onde pesquisadores e governam trocam dados e informações que dispõem sobre o assunto.

Por Manoel Francisco Brito
31 de janeiro de 2005
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31 de janeiro de 2005

Falando de clima…

Em Genebra, a WWF, uma das mais importantes Ongs ambientais do mundo, alertou que nada for feito para reverter o aumento do efeito estufa, num prazo de vinte anos a Terra vai estar 2 graus mais quente do que a 250 anos atrás. Segundo cientista ligado à organização, a variação seria suficiente para varrer a espécie dos ursos polares do mapa. A notícia é do Guardian (gratuito).

Por Manoel Francisco Brito
31 de janeiro de 2005
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31 de janeiro de 2005

A cabra louca

Outra do Le Monde (gratuito). E parece sério. Uma cabra foi infectada na França pelo Mal da Vaca Louca. É a primeira vez no mundo que se tem notícia de um caprino infectado pela doença.

Por Manoel Francisco Brito
31 de janeiro de 2005
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31 de janeiro de 2005

Alckmin pegará a estrada

O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, quer fazer uma viagem de jipe pelo Norte do país. Mais precisamente percorrer a polêmica BR-163, que une Cuiabá a Santarém e tem 900 km ainda não asfaltados. Alckmin trocaria São Paulo pela Amazônia em junho e seria o primeiro passo de uma possível campanha presidencial. A história está na Folha de S. Paulo.

Por Carolina Elia
31 de janeiro de 2005
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31 de janeiro de 2005

Marina se defende

A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, saiu em sua própria defesa no Fórum Social Mundial . Ao ser perguntada se pretende deixar o cargo, rebateu: "O presidente Lula me convidou e ele pode me desconvidar no momento em que achar oportuno". Sobre as críticas ao fracasso do ministério em impedir o plantio de transgênicos e a transposição do Rio São Francisco, Marina argumentou: "Assumi esse trabalho como uma missão e acho que fizemos vários avanços, mas não se pode ter a pretensão de ser uma unanimidade." Mas “Não gosto de morrer de véspera”, foi a melhor frase encontrada pela ministra para definir o seu mandato. As citações foram tiradas do Valor (só para assinantes).

Por Sérgio Abranches
31 de janeiro de 2005
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31 de janeiro de 2005

Boa leitura

Vale a pena ler na íntegra a coluna de Maria Cristina Fernandes, no Valor (só para assinantes), sobre a transposição do Rio São Francisco. Ela começa lembrando que a água é um dos temas principais do Fórum Social Mundial e deságua na obra cara e questionável que ameaça desfigurar a bacia do São Francisco. Ela ouviu especialistas no assunto que afirmam que a melhor solução para a seca seria apenas revitalizar o rio, mas para isso não é necessário canteiros de obras, objetos de cobiça do governo.

Por Carolina Elia
31 de janeiro de 2005
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30 de janeiro de 2005

A Baía Soterrada

O estado grave de degradação em que se encontra a Baía de Guanabara, um dos principais cartões-postais do Rio, ganhou uma matéria especial de 3 páginas na edição deste domingo de O Globo (gratuito). Estudos mostram que ela já perdeu 15% da sua superfície original graças a assoreamentos provocados por obras estaduais mal feitas, esgoto, lixo e crescimento urbano desordenado. Se continuar nesse ritmo, 2/3 da baía secarão em 200 anos. Pela Internet, é possível ter acesso à matéria, mas não às fotos e gráficos que ilustram a reportagem.Por elas, vale a pena comprar a edição impressa do jornal.

Por Carolina Elia
30 de janeiro de 2005