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Os grandes fazem muita falta

Estudo demonstra que o desaparecimento de animais maiores nos fragmentos florestais pode afetar o estoque de carbono

Vandré Fonseca ·
12 de setembro de 2017 · 7 anos atrás
Um muriqui-do-sul em cativeiro no zoológico de Sorocaba. Foto: Wikipédia.
Um muriqui-do-sul em cativeiro no zoológico de Sorocaba. Foto: Wikipédia.

Nenhum outro bicho faz tão bem o trabalho realizado pelos muriquis. São os maiores macacos da área, capazes de consumir os maiores e a maior quantidade de frutos. E não param por aí, levam as sementes para locais mais longe. E isso é importante. E pode ter reflexos até no estoque de carbono da floresta.

“Vários estudos já demonstraram que dispersar a semente em uma distância maior aumenta a qualidade da dispersão, aumenta a probabilidade que essa semente vai sobreviver”, afirma a bióloga Laurence Marianne Culot, do Instituto de Biociências de Rio Claro, Universidade Estadual Paulista (Unesp).

Laurence é a autora principal de um artigo publicado na Scientific Reports, em agosto deste ano, sobre os efeitos da perda de grandes dispersores e grandes predadores de sementes em dois parques estaduais paulistas na Mata Atlântica, Carlos Botelho e Ilha do Cardoso.

Ela analisou o recrutamento, nesse caso, a probabilidade das sementes se tornarem pequenas plântulas e sobreviverem por pelo menos um ano. A espécie estudada foi o cajati (Cryptocarya mandioccana), uma árvore que chega aos dez metros de altura e tem frutos carnudos.

O resultado demonstra que a perda dos animais maiores tem um impacto negativo na regeneração dessa árvore. No caso dos dispersores, a falta de muriquis é compensada apenas parcialmente por animais menores, como jacutingas e bugios, que espalham menos sementes e a distâncias menores.

Já quando se trata de predadores, a perda de porcos-do-mato (queixadas e catitus), os maiores encontrados nas áreas estudadas, abre espaço para um consumo maior dos pequenos roedores. O resultado surpreendeu os pesquisadores, que imaginavam a redução na perda de sementes na ausência dos animais maiores.

“Aconteceu o contrário, aumentou a pressão de predação das sementes”, conta Laurence. “Esses pequenos roedores que predam, consomem essas sementes, aumentaram nessas áreas onde os maiores predadores eram ausentes”, completa.

Laurence afirma que o resultado pode ter implicações sobre o estoque carbono na floresta. Árvores de madeira dura, como o cajati, têm grande capacidade de armazenar carbono. A bióloga alerta que a regeneração de espécies assim pode ter um impacto sobre o futuro estoque de carbono das florestas.

 

Saiba Mais

Artigo:  Synergistic effects of seed disperser and predator loss on recruitment success and long-term consequences for carbon stocks in tropical rainforests.

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Comentários 5

  1. paulo diz:

  2. Luan henrique diz:

    Essa foto é de um muriqui do e no recinto do Zoológico d São Paulo!!


  3. jtruda diz:

    Quando a Grim Piss vai denunciar o massacre de fauna feito pelos "extrativistas queridos" de Marina Silva, Diegues et caterva?… ah esqueci… Não dá ibope pra telemarketing…


  4. AAI diz:

    E segue a "população tradicional" caçando…


    1. Implicando com o AAI diz:

      Deixe de ser implicante… não é tradicional? Se é tradicional é bom…
      Não?

      aposto que AAI significa Analista Ambiental Implicante…