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Hidrelétricas: uma ameaça aqui, lá e acolá

Em artigo publicado na Science, pesquisadores de oito países criticam processo de decisão sobre construções de hidrelétricas nas regiões tropicais

Vandré Fonseca ·
11 de janeiro de 2016 · 8 anos atrás
Belo Monte recebe destaque negativo. A hidrelétrica no Pará está localizada em uma região com um número excepcional de espécies exclusivas. Foto: Vandré Fonseca

Manaus, AM — Barragens são uma ameaça à biodiversidade também em outras regiões tropicais, não apenas na Amazônia. Existem aproximadamente 450 projetos de hidrelétricas nas bacias dos rios Amazonas, Congo e Mekong planejados sem a devida avaliação dos impactos ecológicos, sociais e até mesmo econômicos que podem causar.

A conclusão está em um artigo publicado na sexta-feira (08), na revista Science, por um grupo de quarenta pesquisadores de academias, governos e organizações conservacionistas de oito países. Embora os autores reconheçam as necessidades de geração de energia, os benefícios econômicos desses empreendimentos vem sendo exagerados, ao mesmo tempo que os efeitos a longo prazo na biodiversidade, em regiões ricas ecologicamente, estão subestimados.

“Estas três bacias hidrográficas abrigam cerca de um terço das espécies de peixes de água doce do mundo”, afirma o autor principal do artigo, Kirk Winemiller, professor de Ciências da Vida Selvagem e Pesca na Universidade do Texas. “As 450 barragens adicionais que estão sendo planejadas ou em construção nessas bacias colocam muitos peixes originais em risco”.

Eles alertam que muitos países tropicais não têm protocolos para orientar as construções de hidrelétricas e isentam pequenas barragens de qualquer processo formal de licenciamento. O professor assistente de Conservação de Peixes da Virgínia Teca, Leandro Castelo, lembra ainda que muito dinheiro é gasto em avaliações de impacto ambiental sem nenhuma influência real sobre o projeto, muitas vezes concluídos após o início das obras. “A falta de transparência durante a aprovação da barragem levanta dúvidas sobre se os financiadores e público estão conscientes dos riscos e impactos sobre milhões de pessoas”, afirma.

As corredeiras de Volta Grande, trecho do Baixo Xingu, o maior tributário do Amazonas é lar de dezenas de espécies endêmicas de peixes. Foto: Kirk Winemiller/Texas A&M.

A usina de Belo Monte recebe destaque negativo dos pesquisadores. De acordo com eles, a hidrelétrica pode estabelecer um recorde para a perda de biodiversidade, pois está sendo construída em um local com um número “excepcional”, nas palavras deles, de espécies endêmicas. A construção de centenas de barragens na Amazônica, conforme previsto, vai causar impactos como a realocação de populações humanas e avanço do desmatamento, alertam os autores do artigo.

Na Tailândia, onde estão planejadas 88 barragens, elas podem causar uma expansão de 19% a 63% das terras agrícolas para compensar o impacto das barragens na pesca local. Comunidades do Alto Rio Mekong, conforme o artigo, podem sofrer desafios semelhantes, caso sejam construídas seis barragens previstas.

Os pesquisadores destacam que já existem informações suficientes para análises sofisticadas que possam equilibrar os custos e benefícios da energia hidrelétrica. Eles cobram das instituições que financiam ou licenciam esses empreendimentos que exijam estudos que avaliem os impactos cumulativos ao longo das bacias e as alterações climáticas provocadas pelas barragens. Ainda segundo os autores, ajustes nos procedimentos de avaliação das obras poderiam assegurar que os benefícios sociais da produção de energia sejam obtidos, sem prejudicar o Meio Ambiente.

Vídeo: Barragem de Belo Monte recebe água desviada do canal principal do Rio Xingu. Após gerar energia, a água desviada retorna ao Xingu. Crédito: Leandro Souza

 

 

Saiba Mais
Artigo: “Hydropower Expansion in the Amazon, Congo and Mekong – a looming threat to global biodiversity. Winemiller et al”.

 

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Comentários 9

  1. JORGE RIOS diz:

    Este monte de ecoxiitas e ecoburros NÃO sabem NADA E NEM ESTUDAM HIDROLOGIA, HIDRÁULICA, POLÍTICA ENERGÉTICA e falam um monte de BESTEIROL AQUI NA INTERNET sobre Usinas Hidrelétricas e outras coisas …..
    Devemos SIM explorar as eólicas e solares COMO COMPLEMENTARES mas NADA substitui a energia hidráulica nem mesmo a nuclear ….

    SDS. FLUVIAIS;
    PROF. JORGE RIOS – Diretor da ABES -RIO
    Perito do MPU [Min. Publico da União ]
    Conselheiro e Chefe da DRNR do Clube de Engenharia

    BLOGSPOT ===>>>> http://www.prof-rios.blogspot.com.br

    P.S. = VER minha AULA / PALESTRA intitulada ""A CRISE DA ÁGUA E DE PLANEJAMENTO ""

    Clicar em ===>> http://portalclubedeengenharia.org.br/info/a-cris


  2. Carlos L. Magalhães diz:

    Pois é, Cledivan. O pessoal vê os bobocas do Jornal Nacional mostrando uma duzia de moinhos no RN e um "mar" de placas solares para iluminar meia duzia de casas, e ouve "energia limpa, renovável e sustentável". E esses três últimos adjetivos são o "trio Irakitan" do ambientalismo tupiniquim.

    Esse pessoal saliva de raiva quando ouve falar em energia nuclear, sem o menor conhecimento de como é a energia em toda a Europa, p. ex.. E não tem perigo de lerem bons cientistas brasileiros ou estrangeiros…


    1. George diz:

      Não, Cledivan.

      "O pessoal" vê a Alemanha, conhecida pelo sol tropical, gerando muito mais energia solar do que nos, e regiões da Espanha com menos vento que aqui gerando 80% de sua eletrecidade do vento.

      "O pessoal" vê a Europa querendo investir em mega projetos solares no Norte da África, com todos seus "probleminhas", para exportar energia para a Europa, enquanto que o Nordeste do Brasil, com mais potencial solar e menos jihadistas, importa energia de outras regiões…

      O que "o pessoal" vê no Jornal Nacional é Angra 3 parada por corrupção, Angra 2 desligada por má gestão, Angra 1 com apelido de "Vaga-Lume", e um monte de gente no governo e nas empreiteiras loucos por fazer mais usinas assim… por que será?


      1. Cledivan diz:

        O cidadão não sabe nem quem está falando! Mas já vi que tecnicamente não tem como discutir. Além disso, tem alguém defendendo empreiteira ou corrupção aqui? http://g1.globo.com/Noticias/Economia_Negocios/0,…


        1. George diz:

          Não, não sei do que estou falando. Não sou formado em astrofísica, e não coordenei um estudo dos problemas com as usinas de Angra (parte de um trabalho maior para o MMA). O plano de evacuação em si é uma piada, ainda mas se der M no verão, com a região cheia de veranistas.

          PS: pelo menos arrume um link desta década para tentar me contradizer… em 2008 também achavamos que a Petrobras ia bem… : )


  3. George diz:

    Eólica e solar são inviáveis?

    Nuclear é viável NO BRASIL?!?!?

    As que já temos andam tão bem, e a terceira está saindo no prazo e no orçamento, sem problemas, não é?

    Quem gosta de hidrelétrica e Angra 3 é quem rouba derramando concreto.


    1. Cledivan diz:

      Sr. George Sabichão, tirando a questão da corrupção, tecnicamente porque é inviável a energia nuclear no Brasil? Vc sabe qual a tecnologia, os impactos, o quanto elas geram? Fale sobre o assunto sem achismos típicos de ambientalistas tupiniquins.


      1. George diz:

        Pois não.

        1) No Brasil é o governo que gerência as usinas nucleares, inclusive em questões de segurança. O mesmo governo que não consegue manter papel higiênico nos banheiros do nono andar dos Ministérios, que não consegue manter uma estrada sem buracos, ou um hospital com remédios. O mesmo que até hoje, com o programa espacial, só conseguiu matar quase todos os físicos numa explosão (enquanto a Índia – a Índia! – já tem uma sonda orbitando Marte). Nosso governo não tem competência para gerir algo tão complexo e sem margem de erro.

        2 – as usinas que já temos custaram demais e geram energia de menos, com constantes problemas. O custo-benefício é péssimo.

        3 – a maioria dos Estados proíbe usinas em suas Constituições. Por isso as que temos ficam a meio caminho dos dois maiores centros de população do país.

        4 – "…tirando a questão da corrupção…" – ou seja, tirando o elefante do meio da sala! Angra 3, depois de tantou roubar, parou por corrupção da grossa. Qualquer obra neste país que involve governo contratando empreiteiras para derramar concreto é mau negócio. Sai caro, inseguro, e ruim.


  4. Carlos L. Magalhães diz:

    Energias eólica e solar, em larga escala, para o Brasil, é coisa de pseudo-ambientalistas ignorantes ou mal-intencionados. Está provado, à saciedade, que são inviáveis economicamente.

    As únicas duas possíveis soluções são usinas nucleares ou hidrelétricas. E parece que ambas dão erisipelas e eczemas nessa gente.