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Análises genéticas revelam um novo gato brasileiro

Pesquisadores descobrem que felino que ocorre do Rio Grande do Sul ao Maranhão, na realidade, tratava-se de duas espécies diferentes.

Vandré Fonseca ·
29 de novembro de 2013 · 10 anos atrás

[i]Leopardus guttulus[/i], é encontrado nos estados do Sul e Sudeste do país. As duas espécies não cruzam entre si. Crédito: Projeto Gatos do Mato - Brasil
[i]Leopardus guttulus[/i], é encontrado nos estados do Sul e Sudeste do país. As duas espécies não cruzam entre si. Crédito: Projeto Gatos do Mato – Brasil

Manaus, AM – Esses dois gatos-do-mato são tão parecidos que durante séculos foram considerados populações diferentes de uma única espécie. Só agora, graças a análises genéticas, foi possível confirmar a distinção entre o Leopardus trigrinus, que vive mais ao norte, do Leopardus guttulus, encontrado principalmente em estados do Sul e Sudeste do país. Os estudos que distinguem esses dois felinos foram publicados esta semana na revista científica Current Biology, por pesquisadores brasileiros.

Com peso médio de 2,4 quilos, eles são um pouco maiores do que um gato doméstico. Ambos têm coloração amarelada, com manchas escuras. Mas existem diferenças sutis entre eles. “As manchas, ou rosetas, têm forma e tamanho levemente diferenciados e a cor do fundo também é diferenciada”, afirma o biólogo Tadeu Gomes de Oliveira, coordenador do projeto Gato-do-Mato.

A equipe analisou amostras de gatos-do-mato desde o Rio Grande do Sul até o Maranhão e descobriram que as diferenças entre as populações encontradas ao norte e ao sul do país são tão grandes que determinam a existência de duas espécies. Descobriram também que, embora existam híbridos com outras espécies de gatos-do-mato, essas duas espécies tão semelhantes não produzem descendentes férteis.

“Todos os gatos-do-mato do norte eram geneticamente diferentes das populações do Sul e Sudeste, com um detalhe, todos os indivíduos do norte tinham mistura com o DNA de outra espécie de gato-do-mato, o gato-palheiro (Leopardus colocolo)”, conta Tadeu de Oliveira. No sul, também ocorre essa miscelânea genética, mas com outra espécie, explica. No Rio Grande do Sul, havia a mistura com o Leopardus geoffroyi, conhecido como gato-do-mato-grande.

Apesar da semelhança, o [i]Leopardus trigrinus[/i] (acima) vive mais ao norte. Crédito: Projeto Gatos do Mato - Brasil
Apesar da semelhança, o [i]Leopardus trigrinus[/i] (acima) vive mais ao norte. Crédito: Projeto Gatos do Mato – Brasil

Em 38% dos gatos-do-mato do sul encontrou-se material genético do L. geoffroyi. Tadeu de Oliveira destaca que as duas espécies foram encontradas dividindo a mesma área apenas em Goiás, mas não havia híbridos entre eles. Tadeu de Oliveira destaca uma curiosidade: “Eles se misturam com espécies que sempre foram reconhecidas como distintas, mas não entre eles, que eram considerados a mesma espécie”.

As duas espécies de gatos-do-mato preferem habitats distintos, embora isso seja resultado das características das regiões onde ocorrem. Enquanto o tigrinus é encontrado principalmente em ambientes naturais mais abertos do cerrado e da caatinga, o guttulus está mais associado às remanescentes de florestas. Um dos ganhos de descobrir que se tratam de espécies distintas é poder refletir melhor sobre a estratégia de protegê-los.

Outra consequência: saber que são duas espécies distintas revela que ambas estão mais susceptíveis a desaparecer do que quando se imaginava serem o mesmo animal. O Leopardus trigrinus é classificado com vulnerável na Lista Vermelha da IUCN. Na natureza, é um animal encontrado em baixas densidades, cerca de 0,24 indivíduos por km². Para fazer uma comparação, a densidade de jaguatiricas é de um indivíduo por km², em ambientes naturais.

 

 

Saiba Mais
Artigo: Current Biology, Trigo et al.: “Molecular data reveal complex hybridization and a cryptic species of Neotropical wild cat.” (Dados moleculares revelam complexa hibridização e uma espécie oculta de gato-do-mato)

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