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A floresta marcada a fogo

Estudo demonstra que secas intensas na Amazônia intensificam efeitos de incêndios e podem levar a degradação permanente da floresta.

Vandré Fonseca ·
15 de abril de 2014 · 10 anos atrás

Área degradada submetida a incêndios experimentais. Foto:: Paulo Brando/Divulgação
Área degradada submetida a incêndios experimentais. Foto:: Paulo Brando/Divulgação

Manaus, AM – As previsões de modelos climáticos para o futuro da Amazônia já são ruins, indicando a ocorrência de fenômenos extremos, de secas e cheias, mais intensos e frequentes. Agora, um artigo publicado na revista científica americana Proceedings of the National Academy of Science demonstra que incêndios florestais em áreas fragmentadas, em anos de secas extremas, podem degradar permanentemente a floresta.

O estudo foi liderado pelo engenheiro florestal brasileiro Paulo Brando, do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), e apresenta resultados de experimentos realizados ao longo de 8 anos.
Uma área no Alto Xingu, sudeste da Amazônia, foi submetida repetidamente a queimadas, para se conhecer como a mata reagia aos incêndios. Os pesquisadores já haviam concluído que a floresta era muito resistente ao fogo. Mas após um ano de seca acima da média, eles descobriram que os efeitos das queimadas eram piores do que eles estavam imaginando.

“Depois da queimada experimental de 2007, observamos uma mudança drástica na floresta. Ou seja, a resposta de florestas ao fogo não é linear. Prolongadas secas causam incêndios florestais mais intensos e extensos, que consomem mais florestas na Amazônia do que imaginado”, afirma Paulo Branco.

Imagens de satélite da Agência Espacial Americana, a Nasa, indicam que em 2007 as queimadas consumiram 10 vezes mais florestas do que em anos considerados normais. Naquele ano, a temperatura na região do Mato Grosso havia ficado 2,5 graus Celsius acima da média e o volume de chuvas caiu 20%.

A bióloga Marcia Macedo, do Woods Hole Research Center e pesquisadora associada do Ipam, destaca os efeitos do desenvolvimento da agricultura, que fragmenta a floresta em áreas menores. “Estas floresta fragmentadas são mais propensas a serem invadidas por gramíneas inflamáveis, o que aumenta ainda mais a probabilidade e a intensidade de incêndios futuros”, afirma.

De acordo com os pesquisadores (veja link para o resumo do estudo, em inglês), o fogo provocou mudanças profundas na estrutura, no funcionamento e na composição da floresta. Estas mudanças tornaram a floresta mais susceptível ao fogo. O calor excessivo torna o solo mais seco, fazendo com que as árvores não consigam absorver água e tenham mais dificuldade para se manterem vivas. A reação é liberarem mais folhas e galhos, que acabam se tornando combustível para as queimadas causadas pelo homem, proposital ou acidentalmente.

Michael Coe, também do Woods Hole Research Center e um dos autores do artigo, salienta que nenhum dos modelos utilizados para medir a saúde futura da floresta amazônica inclui o fogo. “Então a maioria das previsões subestimam a quantidade de árvores mortas e superestimam a saúde global da floresta”, afirma. “Os nossos resultados mostram que mudanças climáticas podem ter ainda mais efeitos na dinâmica de florestas da Amazônia”, diz Brando.

As previsões pessimistas destacam a importância de um remédio já conhecido: cuidar da floresta. “A redução na fragmentação da floresta e nas fontes de ignição poderiam diminuir os efeitos do fogo nas florestas da Amazônia”, resume Brando.

 

 

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