“A restinga sempre foi considerada um ambiente da Mata Atlântica”, afirma o biólogo Pablo Rodrigues Gonçalves, doutor em Zoologia e professor do Campus Macaé, da UFRJ. Mas, como ele destaca, existem outras espécies típicas de áreas mais abertas, com cactus, encontradas na restinga e que não existem na Mata Atlântica. “Possivelmente em algum tempo passado, quando o clima era bem diferente de hoje, existiu alguma conexão entre o cerrado e a restinga, quando a espécie ancestral se dispersou para o litoral”, completa.
O corpo do ratinho-goitacá mede em torno de 14 centímetros (30 centímetros até a ponta da cauda) e tem pelagem característica do gênero, amarelada, com ventre branco e acinzentado ao redor dos olhos. Já a cauda bicolor, com a parte superior escura e a base branca, é característica da espécie descrita na restinga. Gonçalves afirma que o C. goytaca é o maior do gênero e possui também diferenças no crânio em relação aos parentes do gênero.
O presença do bicho na região já era conhecida, mas se pensava que era a mesma espécie encontrada no interior do país. Há até pouco tempo, era descrita apenas uma espécie do gênero Cerradomys, que só existe na América do Sul. Hoje, são conhecidas sete espécies. Estudos morfológicos e genéticos comprovaram que o C. goytaca é uma espécie diferenciada.
O ratinho-goitacá tem hábitos noturnos. Durante o dia, permanece no ninho e à noite sai para se alimentar de frutos e sementes. O principal item do menu deste roedor é o fruto da Juruba, uma palmeira rasteira, conhecida também como guriri, que tem caule subterrâneo. Ele é um dispersor de sementes, já que 2% dos frutos que ele pega são enterrados no chão, e muitos acabam ficando por lá mesmo. Mas é um animal que está na base da cadeia alimentar, e é presa de aves de rapina, como corujas, e carnívoros, como o cachorro-do-mato.
A restinga, habitat do bicho, é um ambiente sob pressão de obras de infraestrutura, voltadas principalmente para a exploração de petróleo no litoral e na camada pré-sal, e pela especulação imobiliária. O Parna de Jurubatiba, com cerca de 40 mil hectares, é uma das poucas áreas protegidas onde vive o ratinho. “Se não fosse o Parque Nacional, ele estaria fadado a ser extinto”, sentencia o Pablo Gonçalves.
{iarelatednews articleid=”1680,10961,24976″}
Leia também
A nova distribuição da vida marinha no Atlântico ocidental
Estudo de porte inédito pode melhorar políticas e ações para conservar a biodiversidade, inclusive na foz do Rio Amazonas →
Uma COP 30 mais indígena para adiarmos o fim do mundo
Sediada pela primeira vez na Amazônia, a conferência traz a chance de darmos uma guinada positiva no esforço para frear a crise climática que ameaça nossa espécie →
PSOL pede inconstitucionalidade de lei que fragiliza o licenciamento ambiental no ES
Para o partido, as mudanças no licenciamento estadual não estão previstas na legislação federal e prejudicam o meio ambiente; lei tirou espaço da sociedade civil nos processos →