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Investimento em energia limpa cai em 2013 mas deve subir em 2014

Estados Unidos, China, União Europeia e Brasil puxaram a queda global nos investimentos em energia limpa em 2013. Foi o segundo ano consecutivo de queda.

21 de janeiro de 2014 · 10 anos atrás
  • Sérgio Abranches

    Mestre em Sociologia pela UnB e PhD em Ciência Política pela Universidade de Cornell

*Este artigo foi publicado originalmente no site Ecopolítica e cedido pelo autor para republicação em ((o))eco.

 

O último ano viu um declínio nos investimentos em energia renovável e tecnologias de baixo carbono, como a energia eólica.
O último ano viu um declínio nos investimentos em energia renovável e tecnologias de baixo carbono, como a energia eólica.

Estados Unidos, China, União Europeia e Brasil puxaram a queda global de -12% nos investimentos em energia limpa em 2013. No Brasil, a retração dos investimentos em novas energias chegou a -52%, maior que a da UE, de -41%, do EUA, de -8,4% e da China, de 3,8%. Foi o segundo ano consecutivo de queda global dos investimentos em energia renovável e tecnologias de baixo carbono.

Políticas de redução de emissões de gases estufa são inevitáveis, disse a Secretária Executiva da Convenção do Clima, Christiana Figueres, a mais de 100 investidores institucionais reunidos na sede das Nações Unidas em Nova York, para discutir perspectivas de investimento em energia e tecnologias limpas. Ela informou que, no mês passado, os países concordaram em começar a trabalhar no rascunho do novo acordo climático global, que deve estar pronto para ser adotado no final do ano que vem. Estava respondendo a uma das inquietações do mercado, provocada pelos recuos nas políticas de incentivos às energia limpas em vários países e pelo impasse derivado da polarização política no EUA, onde os republicanos mais conservadores negam a mudança climática e se recusam a apoiar estímulos às tecnologias de baixo carbono e limitações às emissões pela agência ambiental, a EPA. Entre os investidores reunidos pela CERES na Cúpula sobre Risco Climático, estavam importantes investidores institucionais como os fundos de pensões dos professores – (California State Teachers’ Retirement System (CalSTRS) – e dos funcionários públicos da Califórnia – California Public Employees Retiremente System (CalPERS) – seguradoras e resseguradoras e grandes bancos.

Na sessão de abertura, foram informados, porém, que os investimentos em energia limpa caíram pelo segundo ano consecutivo em 2013, embora o valor das ações de empresas de inovação em tecnologias e energias limpas tenham continuado a se valorizar. CERES, uma coalizão de mais de 100 grandes investidores institucionais, promotora do encontro, busca convencer mais investidores da necessidade de investir para reduzir o risco climático que afetará seus próprios acionistas e beneficiários e quer chegar a US$ 1 trilhão de inversões em tecnologias e energias limpas.

O movimento financeiro nesse setor não é pequeno. Mesmo com os investimentos em queda, em 2013 foram investidos US$ 254 bilhões de capital novo em energia solar, eólica, biomassa e eficiência energética. Mas, comparados à estimativa de que seriam necessários US$ 1 trilhão para descarbonizar a economia global, a defasagem é ainda muito grande. As oportunidades, todavia, estão aumentando e a tendência é que haja menos volatilidade nas políticas de energia, com a estabilização e recuperação da economia mundial e se, de fato, houver avanços nas negociações em torno da Plataforma de Durban, aprovada pela Convenção do Clima. Esse documento contém dos compromissos importantes para 2015: rever as metas de redução de emissões à luz das novas evidências reunidas pelo IPCC e aprovar um novo instrumento legal que englobe metas de todos os países, para substituir o Protocolo de Quioto, em 2020.

Houve más e boas notícias sobre a dinâmica do investimento de baixo carbono no relato feito por Michael Liebreich, principal executivo da Bloomberg New Energy Finance. Ele disse que, em 2013, o investimento global em energia limpa caiu para US$ 254 bilhões, em relação aos US$ 288.9 bilhões de 2012. O volume de 2012 já foi menor que o de 2011, o melhor ano da série, quando foram investidos US$ 317.9 bilhões. Essa queda em dois anos consecutivos foi influenciada por dois fatores principais, segundo Liebreich. O primeiro, a forte e continuada redução nos custos dos sistemas fotovoltaicos. O segundo, a queda da confiança do investidor provocada pelas mudanças nas políticas para energias renováveis na Europa e no EUA. Mas o grande impacto quantitativo na queda veio da China, do EUA e da Europa, os maiores investidores. Os investimentos da China mostraram a primeira queda em uma década, por causa da desaceleração da economia chinesa, passando de US$ 63.8 bilhões, para US$ 61.3 bilhões, -3,8%. Nos Estados Unidos, o investimento caiu de US$ 53 bilhões para US$ 48.4 bilhões, -8,4%. A maior queda percentual, contudo, foi na Europa, de -41%. Os investimentos saíram de US$ 97.8 bilhões em 2012, para US$ 57.8 bilhões. Ainda assim, a região ficou no segundo lugar, abaixo apenas da China, mas acima do EUA.

A queda dos investimentos na União Europeia está obviamente associada às dificuldades econômicas da região e à resposta contracionista da política econômica. Grandes economias como Alemanha, França e Itália restringiram os subsídios para novos projetos de energia limpa ou não deram segurança aos investidores de que o setor seria preservado nos cortes orçamentários. Em consequência, o investimento na Alemanha caiu -46,2%; na França, -33,9%; na Itália -73% e na Espanha -64,5%. Entre as grandes economias da UE o Reino Unido apresentou a menor queda, igual à do EUA: -8.4%.

Mas o relatório da Bloomberg NEF não teve só más notícias. No Japão, houve um aumento significativo dos investimentos, de 55%, saltando de US$ 22.7 bilhões para US$ 35.4 bilhões. Esse crescimento foi puxado pela forte demanda por instalações fotovoltaicas de pequena escala, a chamada microgeração, em prédios e residências e em substitutos para a energia nuclear, forçada pela rejeição da população a essa fonte, após o acidente de Fukushima. Além do Japão, a Índia apresentou modesto crescimento do investimento, de 2,6% e os demais países da Ásia também aumentaram suas inversões em energia limpa.

Nas Américas, o Brasil também reduziu investimentos, -52%, saindo de US$ 7.1 bilhões, em 2012, para US$ 3.4 bilhões, em 2013. No Canadá, o investimento subiu, 24,6%, para US$ 7.5 bilhões. Chile, México e Uruguai expandiram significativamente seus investimentos, ultrapassando a casa de US$ 1 bilhão.

Além da expansão das inversões em energia limpa em algumas regiões e países, apesar da queda global, dois outros fatores tiveram sinal positivo em 2013, indicando a provável recuperação dos investimentos este ano. Pelas estimativas da Bloomberg NEF podem crescer 24% globalmente. O primeiro é a recuperação do ritmo do investimento no último trimestre em vários países. O segundo é o próprio efeito desses dois anos de demanda mais baixa, que permitiu que as cadeias de suprimento se ajustassem em um ambiente de custos muito mais baixos. Além disso, a disseminação das energias renováveis, alcançando significativa geodiversidade, representa uma ampliação do mercado global para essas novas tecnologias, compensando o compasso lento ainda de economias que puxaram a demanda, por muito tempo, como a União Europeia. Durante o período de forte crescimento dos investimentos, as cadeias de suprimento de turbinas eólicas e placas fotovoltaicas, por exemplo, estavam no limite de sua capacidade de oferta. Agora estão ajustadas e prontas para atender uma nova onda de demanda mais forte.

Em relação ao desempenho global dos diferentes setores de energia limpa, o de energia eólica mostrou certa resistência à retração, com investimentos praticamente estáveis: foram US$ 80.3 bilhões em 2013, saindo de US$ 80.9 bilhões em 2012, apenas -0,75%. No setor de energia solar, houve queda mais acentuada, -19,7%, passando de US$ 142.9 bilhões para US$ 114.7 bilhões. O investimento em outras tecnologias, como redes inteligentes, armazenagem de energia, veículos elétricos e eficiência, cresceu, 5,8%, para US$ 34.6 bilhões. Houve queda nas inversões em biocombustíveis, de -25,8%.

Nos mercados de bônus verdes e ações de empresas de energias e tecnologias limpas e inovação, os valores não foram afetados negativamente. Ao contrário. O Índice NEX (WilderHill New Energy Global Innovation Index) composto pelas ações de 102 empresas do mundo que produzem ou usam energia limpa e têm programas de inovações para descarbonizar suas atividades, subiu 54% em 2013, o melhor desempenho desde 2007. Ao longo do ano, houve certa volatilidade, em dezembro, fechou o mês 13% abaixo da marca de janeiro de 2006.

Outros índices, como o índice global dos setores de energia limpa NYSE-Bloomberg e os índices regionais de energia limpa NYSE-Bloomberg, tiveram todos desempenho positivo em 2013.

 

 

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