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Temos o que comemorar?

Nesses cinco anos vimos O Eco crescer, viajar e noticiar o meio ambiente dos quatro cantos do mundo. Nesse mesmo período, vimos retrocessos na questão ambiental. Mas meu filho me mostrou que também houve avanços.

4 de agosto de 2009 · 15 anos atrás

Parabéns para Você nessa data querida, muitas felicidades, muitos anos de vida. Hoje O Eco faz cinco anos de existência. Cinco anos de dificuldades, avanços, tristezas e alegrias. Uma pequena vida como qualquer outra, povoada de percalços, mas também de vitórias. A data merece um bolo e velinhas?

Depende. O que estamos comemorando? O aniversário de O Eco? Ou as mudanças na saúde ambiental do planeta nesses últimos cinco anos? Creio que em ambos os casos podemos bater palmas e soprar velas, embora o aniversariante e sua razão de ser não tenham lá uma saúde de ferro.

Nesses cinco anos vimos O Eco crescer, mudar de cara, dialogar com seus leitores, viajar e noticiar o meio ambiente dos quatro cantos do mundo. Também o vimos sofrer com a crise financeira e com as dificuldades inerentes a se manter um jornal independente e especificamente voltado às questões ambientais. Até o momento, com a ajuda inestimável de nossos leitores e colaboradores, temos dado a volta por cima.

Nessa meia década testemunhamos a situação do meio ambiente no Brasil piorar e melhorar. Não há dúvidas que o desmatamento segue avançando Amazônia adentro, que a caça desenfreada está deixando as florestas do Brasil vazias e que o Instituto Chico Mendes continua mal aparelhado em recursos materiais e humanos para a enorme tarefa que lhe é pedida. Ninguém põe em causa o fato de que o aquecimento global veio para ficar, que os mares estão cada vez mais poluídos e menos piscosos e que as espécies exóticas têm avançado sobre territórios cada vez mais longínquos, provocando extinções em escalas nunca vistas antes. A situação é séria.

Também é verdade, contudo, que nesses cinco anos a China, os Estados Unidos (maiores emissores mundiais de gases que causam efeito estufa) e a Austrália (maior emissor per capita) revisaram suas posições com relação aos princípios que regem o Protocolo de Quioto e estão prontos a negociar um novo tratado mais efetivo para mitigar os efeitos do aquecimento global. Também na área da conservação tivemos boas notícias: nunca na história desse país tantos hectares de floresta foram declarados como área protegida. Além disso, aumentaram os investimentos em saneamento básico e em educação ambiental.

Falem mal, mas falem de mim. Talvez esse tenha sido o mote dos últimos cinco anos. No período, o meio ambiente, antes relegado às páginas secundárias dos jornais (isso quando era notícia) ganhou relevância midiática. Hoje as notícias ambientais dividem ombro a ombro espaço com as novas de economia, política e esportes. O assunto não é mais um tema específico reservado para iniciados. O termo ecologista deixou de ter sentido. Hoje quase todos os cidadãos têm noção do que é a Ecologia, sabem as conseqüências de jogar lixo nas margens dos rios, de desmatar mananciais, de passear com cachorros em unidades de conservação. Mais do que isso, parcela significativa da população entende os conceitos de aquecimento global e de desertificação e se posiciona de forma indignada quando o Brasil importa lixo radioativo ou pneus usados. É um primeiro passo. Saber e ter uma opinião formada sobre assuntos ambientais (que em última análise afetam a vida dos cidadãos) são degraus importantes para a construção de uma sociedade sustentável.

Mas não basta. Conhecimento é apenas, jornal, revista ou livro. Somente o conhecimento aplicado tem o poder de mudar alguma coisa. Nesse sentido, entretanto, não há como andar mais depressa. Em uma democracia, problemas só são resolvidos quando a maioria da população os percebe e se sente incomodada com eles. Em um país pobre e urbano como o Brasil a gestão meio ambiente muitas vezes ainda não é percebida como uma prioridade já que não implica em males imediatos ou prementes, embora aponte para catástrofes futuras. A informação tem valor excepcional, pois permite ao cidadão avaliar os riscos que corre caso a Sociedade não haja imediatamente para corrigir problemas e desvios cujas conseqüências deletérias só se farão sentir no futuro.

Nesse sentido, creio que sim temos razão para comemorar e ilustro com uma pequena historinha. Meu filho Lucas de 12 anos veio me visitar em Lisboa durante as férias escolares. Fizemos uma pequena viagem e fomos ao supermercado nos abastecer. Na hora de embalar as compras tomei uma bronca: “pai porque você não trouxe sacolas de pano. O plástico polui muito o meio ambiente”. Surpreso e envergonhado, mas também orgulhoso da cria, perguntei: “onde você aprendeu isso?” “Ora pai, não me lembro onde aprendi. Todo mundo sabe que sacolas de plástico não fazem bem para a natureza, pois poluem os rios e não são biodegradáveis”. Pois é, duvido que há cinco anos uma criança de doze anos tivesse essa informação de maneira estruturada e que a informação induzisse a uma ação ou- no meu caso- a um pito bem aplicado. Concluindo, a nova geração já tem uma abordagem mais prática e pró-ativa para com o manejo ambiental. Acho que temos razões para comemorar sim. Parabéns a O Eco e a todos os que militam pela causa ecológica no Brasil e pelo mundo afora.

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