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“Bota multifunções?!”

Não existe bota ideal, que entre em qualquer tipo de pé e que sirva igualmente no Brasil ou no Alasca. É preciso pesquisar e entender qual a melhor opção para a sua aventura.

6 de novembro de 2007 · 16 anos atrás
  • Helena Artmann

    Montanhista e balonista há mais de 16 anos, tendo feito mais de 15 expedições para alta montanha. É formada em Comunicação So...

“Estou pensando em investir em uma bota que fosse multifunções. Não sei se é possível mas será que existe uma bota que sirva para fazer trilhas, subir as Agulhas Negras, fazer aproximação de bases, andar pela ilha Navarino e pela Patagonia, andar na neve, subir o Aconcágua ou algum vulcão no Peru? Existe uma bota polivalente assim? Os fabricantes e os cheios da grana dirão: “NÃO! Você tem de ter uma bota para caminhadas leves, outra para aproximação e outra para expedições árticas…” Como não tenho dinheiro para comprar uma de cada tipo, estava dando uma olhada em algumas botas e pensei nessas aqui de goretex etc e com um preço mais acessível.”

Esta sugestão foi pedida em uma lista de montanhistas e eu dei a seguinte resposta, que reproduzo aqui, por achar que as informações contidas são úteis para muita gente:

Eu não sou fabricante, nem sou cheia da grana, mas o que você está querendo simplesmente não existe… É o mesmo que pegar uma bicicleta de estrada e querer colocar para fazer trilhas de mountain bike (como não pedalo, espero fazer sentido com o meu exemplo!), assim como não existe uma barraca que funcione bem acampando em Ilha Grande e no colo sul no Everest! Os terrenos citados são MUITO diferentes e exigem botas distintas.

Veja bem, você pode dar sorte e conseguir fazer tudo com uma bota só. Vai sofrer com o calor, com uma bota de Gore-tex no Brasil – pior, ela vai se detonar muito rápido pois a fibra respirável tipo Gore-tex não foi feita para a condição brasileira, ou seja, muito calor e umidade – e você vai gastar uma grana nela!. Vai sofrer com o frio, podendo inclusive congelar o pé se tiver de passar uma noite ao relento, por exemplo, com uma bota de fibra respirável que não seja dupla, de plástico ou top de linha de couro para subir o Aconcágua. Na média, ou seja, em lugares como Patagonia – se for só para fazer trekking – e ambientes similares, estará bem equipado.

Minha sugestão é comprar os equipamentos com calma e por ordem de prioridade. Está com uma viagem marcada para montanhas brasileiras, compre uma bota nacional e SEM fibra respirável. Você não vai gastar tanto e ela vai te servir muito bem. E vai te servir na maioria das trilhas patagonicas também… Diria mais, seria sua bota de aproximação para os campos bases citados (vulcões, montanhas na Bolívia e Peru, Aconcágua). Não é o ideal e, para isso, eu sugeriria uma bota nacional mais dura, mas sem ser rígida – você as encontrará em sites internacionais com o nome de botas de trekking para vários dias ou, em inglês, backpacking (botas de trekking para um dia só são mais leves e menos rígidas, não convém usar com mochilas pesadas e terrenos idem).

Veja bem, estas botas servirão bem para caminhar por terrenos cheios de pedras e com peso nas costas. Se for fazer caminhadas leves, com mochila de ataque, talvez termine o dia com os pés doloridos… Ah! Não esqueça de comprar, junto com a bota, uma palmilha descente para atividades ao ar livre. Elas costumam custar caro mas valem cada centavo!

Se estiver indo para o Aconcágua ou alguma montanha dos Andes, provavelmente estará programando esta viagem há meses, ou mesmo anos, e terá tempo (e espero dinheiro!) para se equipar decentemente. Aí, se for a sua primeira experiência neste tipo de ambiente, sugiro alugar uma bota, para que você aprenda a escolher uma depois (não é como comprar um tênis para andar na cidade!) e, também, para que você tenha tempo de saber que vai gostar da brincadeira – a vida em alta montanha é MUITO dura e não é todo mundo que se adapta ou gosta… Não tem nada de errado nisso, mas acontece nas melhores familias.

Gostou da brincadeira? Então, corra atrás de uma bota decente para as altitudes de montanhas que vai subir – veja ajustes para crampons e aprenda a escolher e usar um, pois você vai precisar. E não se iluda! Você pode subir todas as montanhas dos Andes e dos Alpes com a mesma bota, mas o dia que quiser ir para o Alasca ou Himalaia, esqueça! Você terá de comprar outra. 😉

Não tem como fugir: escalar em gelo e alta montanha é um esporte caro e o equipamento é todo importado, ou quase todo. Se você quiser levar isto a sério, vai ter de gastar uma grana… 🙁

Outra sugestão é fazer uma busca no Google sobre este assunto – existem mil revistas americanas, sites de fabricantes e lojas falando sobre o tema. Dá para escrever, fácil, uma tese.

E não esqueça de considerar o seu pé – algumas marcas podem fazer botas lindas, com preco bom e ser o modelo dos seus sonhos, mas alguns fabricantes fazem botas e sapatos para pés finos – se o seu é largo, esqueça. Não é marca para você. Alguns, ao contrário, fazem botas e tênis para pés mais largos, por exemplo. E por aí vai. Primeiro, precisa conhecer seu pé para escolher a marca e a bota que melhor vai se adaptar a você. Eu, por exemplo, já insisti em Salomon e desisti – não funciona nos meus pés, mas sei de gente que adora e não troca por nada! Queira ou não, bota tem de ser experimentada – e com a palmilha e as meias que você vai usar durante suas viagens. Encomendar é loteria… e você pode acabar com uma bota que não te serve às vésperas da sua viagem.

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