Colunas

A mão visível vai às compras

Uma das práticas mais eficazes do governo na área ambiental são as compras sustentáveis. Nossos esforços ainda são tímidos, mas São Paulo e Minas Gerais largaram na frente.

17 de agosto de 2009 · 15 anos atrás
  • Eduardo Pegurier

    Mestre em Economia, é professor da PUC-Rio e conselheiro de ((o))eco. Faz fé que podemos ser prósperos, justos e proteger a biodiversidade.

Mercados compõem um mecanismo que promove a eficiência no uso de recursos e, por isso, são fundamentais para atingir uma economia que minimize os impactos ambientais. Mas quem normatiza é o governo, canalizando a vontade da maioria da coletividade, através da imposição de metas e limites. Uma das práticas mais eficazes que o governo pode adotar na área ambiental são as compras sustentáveis.

As camadas Federal, Estadual e Municipal do governo adquirem anualmente produtos e serviços que chegam a 10% do PIB, englobando milhares de itens. O governo é um dos maiores compradores de coisas tão diversas quanto uniformes, produtos de limpeza e energia. É ele que, em geral, asfalta as ruas e estradas, além de ser um dos maiores clientes da construção civil. Também é um dos grandes compradores de móveis, produtos de informática e seus consumíveis, como papel e tinta. Não é difícil imaginar o impacto indutor que o setor público pode ter se comprar produtos mais amigáveis ao meio ambiente. Inclusive, no incentivo a tecnologias que podem cair de preço se forem usadas em escala. A questão é como enquadrar isso do ponto de vista econômico.

A lei que regula licitações no Brasil enfatiza que as compras sejam feitas pelo menor preço. A análise de ciclo de vida do produto é o conceito que abarca o custo total de aquisição, transporte, uso e sua disposição. E é isso que deve nortear as compras públicas. Sem usar esse critério, o barato hoje pode sair caro no longo prazo. O preço à vista de um produto é apenas uma parcela dos custos que serão incorridos ao longo da sua vida útil. Por exemplo, um monitor de computador que consuma menos energia e não contenha mercúrio ou chumbo pode custar mais caro do que um monitor comum. Entretanto, para compará-los é preciso levar em conta a duração dos dois produtos. Ao longo de quatro ou cinco anos pode ser que o produto mais verde acabe saindo mais barato que o comum, levando-se em consideração a redução na conta de energia, manutenção e custos de disposição do mesmo ao fim da sua vida útil.

Em edificações, para citar outro aspecto, o projeto é fundamental. Um prédio com especificações corretas, como pé direito, orientação em relação ao sol e uso de materiais adequados, pode ter uma temperatura bem mais amena que outro menos pensado. E no uso de consumíveis, de produtos de limpeza a cartuchos de tinta para impressoras, muito pode ser feito, da especificação de embalagens ao treinamento de funcionários para evitar o desperdício.

Resumindo, o setor público maximizará o seu impacto verde se comprar apenas o necessário, com bom planejamento, se considerar o custo ao longo do ciclo de vida do produto e usá-lo com eficiência. Se perseguir essas diretrizes, o setor público dará uma ajuda e tanto, pela sua participação na economia, na direção da sustentabilidade.

Na União Européia, Japão e Estados Unidos já existem muitas iniciativas nesse sentido. No Brasil, os Estados de São Paulo e Minas Gerais largaram na frente.

Para quem quiser saber mais sobre o assunto, adaptado da versão européia, está disponível online o Guia de compras públicas sustentáveis, um belo trabalho realizado pelo ICLEI (Governos Locais Pela Sustentabilidade) em parceria com o Centro de Estudos de Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo.

Leia também

Notícias
24 de abril de 2024

Na abertura do Acampamento Terra Livre, indígenas divulgam carta de reivindicações

Endereçado aos Três Poderes, documento assinado pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) e organizações regionais cita 25 “exigências e urgências” do movimento

Reportagens
24 de abril de 2024

Gilmar suspende processos e propõe ‘mediação’ sobre ‘marco temporal’

Ministro do STF desagrada movimento indígena durante sua maior mobilização, em Brasília. Temor é que se abram mais brechas para novas restrições aos direitos dos povos originários

Notícias
24 de abril de 2024

Cientistas descobrem nova espécie de jiboia na Mata Atlântica

A partir de análises moleculares e anatômicas, pesquisadores reconhecem que jiboia da Mata Atlântica é diferente das outras, e animal ganha status de espécie própria: a jiboia-atlântica

Mais de ((o))eco

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.