Colunas

As algas chegam ao tanque de gasolina

Enquanto o debate sobre a competição por terras entre biocombustíveis e alimentos acirra os ânimos e não encontra um fim, solução para bioenergia poderá vir do mar.

26 de fevereiro de 2009 · 15 anos atrás
  • Eduardo Pegurier

    Mestre em Economia, é professor da PUC-Rio e conselheiro de ((o))eco. Faz fé que podemos ser prósperos, justos e proteger a biodiversidade.

Muitos dos nossos problemas ambientais são, literalmente, terrestres. Mas nosso planetinha é azul porque perto de três quartos da sua superfície são cobertos pelos oceanos. Quase toda (97%) a água do globo é salgada. E além de navegá-las, tudo o que sabemos fazer é predar os seres que nela habitam. Enquanto isso, competimos por recursos que se restringem ao outro quarto do planeta. Acabamos de inventar outro dilema de longo prazo: a dura escolha entre usar terra para plantar comida ou biocombustível. Mas se os últimos pudessem ser produzidos no mar, isso ajudaria a produzir alimentos mais baratos e reduziria a pressão para expansão da fronteira agrícola via desmatamento.

Por isso, lendo o excelente BLDG Blog, fiquei entusiasmado ao me deparar com um projeto vencedor de um prêmio de Arquitetura que pretende criar fazendas de algas marítimas na costa da Escócia. O propósito é produzir, entre outros derivados, biocombustíveis. Cientistas escoceses endossam a tese de que o óleo derivado da biomassa das algas ajudará a suprir a demandas de transporte e calefação. Citam, ainda, que as algas, por alimentarem a fauna marítima, aumentam a biodiversidade e, ao crescerem, são potentes sorvedouros de carbono, contribuindo para mitigar o efeito estufa.

Há outras vantagens, como se desenvolverem em água salgada, que, ao contrário da doce, existe em vastas quantidades; ou ocuparem espaços fora da costa, submersas e longe da nossa vista. Espalhados pelo mundo, existem vários outros projetos marítimos ou em lagos e represas que estudam o potencial enérgico das algas. O Japão, por exemplo, planeja enormes fazendas marítimas de biomassa.  

Pesquisando um pouco mais, deparei-me com o enorme potencial dessas plantas. Para começar, a diversidade das algas é extravagante. O Museu Nacional de História Natural, em Washington, já catalogou mais de 300 mil espécimes, com tamanhos que variam do microscópico até mais de 60 metros de comprimento. A variedade de usos é também extensa. Ricas em vitaminas e minerais, as algas são consumidas na alimentação humana (os chineses consomem mais de 70 variedades. Para não falar do Temaki, o cone de alga recheado que virou uma febre no Rio de Janeiro e outras cidades brasileiras) e de animais.

Também são insumo para cosméticos e farmacêuticos. Há séculos, têm função de fertilizante em partes da Grã-Bretanha. Ajudam a limpar esgotos, absorvendo efluentes e reduzindo a necessidade de químicos.  Como combustível, podem produzir etanol, biodiesel e hidrogênio. Entusiastas do assunto acreditam que uma fazenda de algas do tamanho do estado do Texas (Estados Unidos) poderia suprir um bioreator e gerar hidrogênio suficiente para suprir toda a demanda mundial de energia.

Os mares passam por desafios urgentes. Para citar só dois, os recifes estão ameaçados pelo aquecimento dos oceanos e a exploração excessiva dos peixes comerciais, como atum ou bacalhau, está dizimando os cardumes. Falta muito para o homem aprender a usar com racionalidade os recursos que vêm dos oceanos.    Mas eles são generosos e pode ser de lá que venha a energia do futuro.

Leia também

Colunas
17 de abril de 2024

Declaração de Barcelona define novos rumos para a Década do Oceano

O encerramento do evento oficializou a primeira conferência da Década do Oceano de Cidades Costeiras que ocorrerá em 2025 na cidade de Qingdao, na China.

Salada Verde
17 de abril de 2024

Marina Silva é uma das 100 pessoas mais influentes de 2024, segundo a Time

Selecionada na categoria “líderes”, perfil de Marina destaca a missão da ministra em prol do combate ao desmatamento ilegal na Amazônia. Ela é a única brasileira citada na lista de 2024

Reportagens
17 de abril de 2024

Em audiência pública na ALMG, representantes da UFMG alertam para impactos da Stock Car

Reunião contou com reitora e diretores da universidade, mas prefeitura e organizadores da corrida faltaram; deputada promete enviar informações a patrocinadores da Stock Car

Mais de ((o))eco

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.