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Arca de Noé virtual

Está previsto para 2008 o lançamento da Enciclopédia da Vida, um projeto que promete reunir no mundo virtual informações sobre todas as espécies conhecidas da Terra.

18 de maio de 2007 · 17 anos atrás
  • Eduardo Pegurier

    Mestre em Economia, é professor da PUC-Rio e conselheiro de ((o))eco. Faz fé que podemos ser prósperos, justos e proteger a biodiversidade.

O projeto da maior das enciclopédias acaba de começar. As tecnologias de colaboração na internet nos permitirão participar da criação da Enciclopédia da vida.

Eis uma cena que pode acontecer dentro de quatro ou cinco anos. Um curioso garoto brinca no sítio do avô, no interior de São Paulo. Ele está fascinado com a natureza que o cerca. Ao invés de estilingue ou espingarda de chumbinho, está armado com uma câmera digital dotada de um zoom potente, estabilizador de imagem, GPS, e uma conexão banda larga sem fio. É uma Canon modelo Bird Watcher SD5, que ganhou de presente de 10 anos.

Seu instinto de caçador não está dirigido para matar, mas para descobrir tudo o que puder sobre a fauna e a flora que encontrar pela frente.

Ele avista um belo pássaro. Tem cara preta, corpo azulado e barriga branca. Aponta a câmera e tira uma foto. Em seguida, ele começa a usar o visor LCD da câmera para acessar o site da Enciclopédia da vida. Ele navega por uma estrutura de menus tipo árvore, escrevendo na área de busca “pássaro, brasil, sudeste, azul”. Surgem vários resultados na tela. Passeando pelas fotos de diversas aves, ele rapidamente identifica o que viu, um saí-andorinha. Nome científico, tersina veridis. Família, emberizidae.

Usando esse método, ele catalogou durante suas férias de verão 23 espécies que habitam o sítio. Usando a Enciclopédia da vida, versão português, aprendeu os hábitos de cada uma e as regiões onde podem ser encontradas. Com um messenger, fez perguntas a um especialista no assunto, localizado no Maranhão. Finalmente, uma de suas fotos ficou tão boa que acabou incluída no verbete virtual do Saí-Andorinha. Ela agora está disponível para interessados em qualquer lugar do mundo.

Nada disso precisa ser ficção. Todas as tecnologias mencionadas já existem e podem ser acoplada numa câmera. Alguns modelos já existentes possuem GPS e Wi-FI.

Só falta, ou quase, a Enciclopédia da vida. O projeto acabou de ser lançado e entrará no ar durante 2008. Um dos seus idealizadores é E. O. Wilson, professor emérito de Harvard, entomologista especializado em formigas e criador da controversa sociobiologia, a idéia de que existe uma base biológica para o comportamento social das espécies.

Em 2002, Wilson publicou um artigo onde concebia uma grandiosa e dinâmica enciclopédia biológica, unindo todo o conhecimento que hoje só está disponível de forma fragmentada.

Abraçada por patrocinadores de peso, a Enciclopédia da vida está prestes a tornar-se realidade. Em cinco anos, espera-se que acumule um denso conteúdo. Em dez, abrangerá todas as 1,8 milhão de espécies conhecidas e todas as que vierem a ser descobertas. Afinal, segundo os especialistas, conhecemos apenas uma parte, talvez pequena, da biodiversidade do planeta. E, com essa ferramenta, seremos postos no topo desse iceberg.

Sua inspiração é a Wikipedia. Ou seja, a Enciclopédia da vida será uma construção aberta e contínua, feita pela livre colaboração de cientistas e amadores de todo o mundo. Ela também indicará as melhores fontes de cada assunto. Para que o conteúdo seja confiável, os verbetes serão supervisionados por especialistas.

No site do projeto, existem algumas páginas de demonstração. Os verbetes podem conter texto, fotos, vídeos e sons, além de links para os sites relacionados. Na página do urso polar, o Ursus Maritimus, temos informações como genoma, biologia molecular, reprodução, comportamento, função no ecossistema, risco de extinção, programas de proteção, entre outras. Elas podem ser atualizadas e ampliadas pelos próprios usuários.

Essa não é somente a Enciclopédia da vida, é também viva. Se a Wikipedia é um bom exemplo, ela será construída rapidamente e por muitas mãos. Ao garoto do futuro não faltará curiosidade nem acesso ao conhecimento. O risco que ele corre é que falhemos em preservar a diversidade biológica que existe hoje.

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