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Na África, de caminhão se vai ao longe

Em certos continentes como a África, as dificuldades de língua e a falta de infra-estrutura muitas vezes inviabilizam uma idéia de viagem. O que fazer? Utilizar um veículo anfíbio.

9 de setembro de 2008 · 16 anos atrás
Nomeada por Livingstone, Victoria Falls arrebata os corações dos turistas que visitam a fronteira do Zimbabwe com a Zambia. (Foto: Ana Leonor)
Nomeada por Livingstone, Victoria Falls arrebata os corações dos turistas que visitam a fronteira do Zimbabwe com a Zambia. (Foto: Ana Leonor)
O enorme caminhão anfíbio, que transporta os viajantes.  Nesta aventura, a participação de todos é fundamental.  (Foto: Pedro da Cunha e Menezes)
O enorme caminhão anfíbio, que transporta os viajantes.  Nesta aventura, a participação de todos é fundamental.  (Foto: Pedro da Cunha e Menezes)

A casa

O veículo quase futurístico normalmente tem capacidade para acomodar 25 pessoas.  Durante toda a viagem ele será a casa dos viajantes radicais.  Além dos passageiros os tours costumam incluir um motorista, um guia, e às vezes, um cozinheiro.  A proposta da viagem é percorrer paisagens distantes do contexto urbano.  Para isso, o caminhão deve ser auto-suficiente, carregando tudo o que precisa.  Com direito a uma pequena biblioteca, mega-isopor para as bebidas, cofre, e som para conectar o i-Pod, não é difícil passar horas a fio assistindo ao melhor do Discovery Channel, ao vivo, pela janela.

Para assegurar o sono de noites bem dormidas a moradia passa a ser em tendas de acampamento, que são fornecidas pelo tour, com espaço para duas pessoas.  Caso a lotação do caminhão esteja esgotada, o que é raro acontecer, quem viaja sozinho tem que dividir seu metro quadrado com outra pessoa.  As barracas são fáceis de montar e têm altura suficiente para ficar em pé.  Fica por conta do freguês levar seu saco de dormir e um colchão isolante para amortecer o terreno.  Todas as noites e manhãs é necessário montar e desmontar o circuito, trabalho feito cada vez mais rápido devido a crescente prática.

Outra característica dos Overland Tours (tours que cruzam territórios terrestres) é a participação do passageiro nas tarefas diárias.  Um sistema de rotatividade é estabelecido pelo guia, que escala duplas para se revezarem no preparo das refeições (nada muito complicado, e sempre com orientação do guia), lavarem a louça e comprarem os mantimentos no mercado.  De acordo com uma das maiores agências do ramo, a Dragoman, basta ter flexibilidade e boa vontade, que as coisas correm bem e todos se divertem.

A viagem

Um dos percursos mais procurados no continente africano, oferecido pela agência Kumuka, tem o nome de Southern Star (Estrela do Sul).  São 21 dias de viagem começando no Zimbabwe, passando por Botswana, Namíbia e terminando na Cidade do Cabo, na África do Sul.  O itinerário também pode ser feito no sentido inverso, dando maior flexibilidade ao turista.

Os elefantes roubam o show no passeio de barco do Parque Nacional de Chobe. (Foto: Ana Leonor)
Os elefantes roubam o show no passeio de barco do Parque Nacional de Chobe. (Foto: Ana Leonor)

Nesse passeio tem de tudo um pouco.  A começar pelas estonteantes cachoeiras de Victoria Falls, na fronteira da Zâmbia com o Zimbabwe.  Depois começa-se a descer para Botswana, com paragem no Parque Nacional de Chobe, conhecido como lar de mais de 120 mil elefantes, além de búfalos, antílopes, e predadores.  A excursão de barco, incluída no tour, leva os passageiros ao encontro dessa múltipla fauna.  Quem for entre os meses de novembro e março ainda poderá encontrar uma variedade de pássaros migratórios fazendo suas escalas.

Um dos meios de transporte mais rústicos da viagem, a frágil canoa de madeira leva os turistas à ilhota no Okavango Delta. (Foto: Ana Leonor)
Um dos meios de transporte mais rústicos da viagem, a frágil canoa de madeira leva os turistas à ilhota no Okavango Delta. (Foto: Ana Leonor)

Outro importante ponto turístico é o Okavango Delta.  Em canoas nada estáveis, por entre assustadores hipopótamos, todos são levados a uma ilhota para pernoitar.  A noite é passada em volta da fogueira, onde brincadeiras conduzidas pelo guia, ou  pelos mais extrovertidos são aproveitadas com alguma dose de álcool.  Os pescadores e guias locais também costumam interagir, apresentando um pouco de sua cultura, com músicas típicas e danças.  É pura diversão em uma imensidão sem fim.

Trocando de país, a Namíbia mantém o estilo surpreendente da viagem.  Em dois dias no Parque Nacional do Etosha, que faz parte do Grande Kalahari, diversos leões podem ser admirados.  Com mais de 114 espécies de mamíferos e 340 de pássaros diversos, esse é um dos mais belos parques nacionais africanos.  Para os mais sortudos, guepardos e leopardos ainda podem dar o ar da graça.

Alcatéias de leões são presença garantida no Parque Nacional do Etosha, na Namíbia. (Foto: Ana Leonor)
Alcatéias de leões são presença garantida no Parque Nacional do Etosha, na Namíbia. (Foto: Ana Leonor)

Os próximos pontos são dedicados aos amantes de aventura.  É no maior canyon africano, o Fish River Canyon que são feitas caminhadas no topo de uma fenda de 550 metros de profundidade.  Também é possível fazer um percurso de 5 dias, cruzando parte dos seus 160 km de comprimento, cruzando rios e explorando o terreno rochoso.  Mas não nesse tour.  Não há tempo e é preciso seguir adiante.

Com mais de 500 milhões de anos, as dramáticas fendas do Parque Nacional Fish River Canyon são inebriantes. (Foto: Ana Leonor)
Com mais de 500 milhões de anos, as dramáticas fendas do Parque Nacional Fish River Canyon são inebriantes. (Foto: Ana Leonor)

Mas a pressa tem sua razão de ser. A próxima escala do passeio é o Cheetah Park, o parque dos guepardos.  A família namibiana dos Nel decidiu criar esta reserva depois que todo seu rebanho de ovelhas foi atacado pelos gatunos.  Ao invés de vencê-los decidiram juntar-se a eles.  Hoje Tollie e Roeleen Nel têm mais de 20 mamíferos em sua fazenda de 70 hectares.  Sobrevivendo com doações e programas de turismo, a maior sensação desse “parque” é a hora de alimentação dos guepardos.  Em boléias de caminhão os turistas se acotovelam para conseguir a melhor vista e é claro, a melhor foto.  O trabalho realizado pela família Nel dá gosto de ver e participar.

Mais de 20 guepardos moram nesta área protegida da Namíbia, reservada especialmente para eles.  Em tours diários, turistas são levados em um caminhão aberto, para assistir seu momento de alimentação. (Foto: Ana Leonor)
Mais de 20 guepardos moram nesta área protegida da Namíbia, reservada especialmente para eles.  Em tours diários, turistas são levados em um caminhão aberto, para assistir seu momento de alimentação. (Foto: Ana Leonor)

Mudando pela última vez de país, a próxima parada é mais uma vez dedicada à aventura.  No Orange River, o rio mais longo da África do Sul, algumas horas de canoagem são suadas debaixo de falésias gigantes.  Em suas águas cor de café-com-leite, até 30 km podem ser percorridos em um dia, com vistas espetaculares de ambos os lados.

Para os viciados em aventuras, ou para os que gostam de um passeio calmo e agradável, a canoagem no Orange River não decepciona. (Foto: Ana Leonor)
Para os viciados em aventuras, ou para os que gostam de um passeio calmo e agradável, a canoagem no Orange River não decepciona. (Foto: Ana Leonor)

Chegando à parte urbana da África do Sul as visitas continuam por Stellembosch, a charmosa cidade produtora dos vinhos mais famosos do país.  Como a adaptação de volta à civilização demora um pouco, esse é o melhor lugar para fazer um ritual de passagem digno de uma ótima viagem.  A culinária da cidade também promete e os saudosos de guardanapos de pano e serviço de mesa serão correspondidos com devota dedicação.  Para finalizar a viagem, alguns dias na Cidade do Cabo com suas divinas praias e surpreendentes trilhas devem deixar o aventureiro voltar para casa de consciência tranqüila, sabendo que aproveitou o que o sul da África tem de melhor.

Ao final da viagem, a cereja do bolo:  a Cidade do Cabo, na África do Sul.  A vista da Montanha da Mesa com direito à bondinho e tudo, só rivaliza com a cidade maravilhosa do Rio de Janeiro. (Foto: Ana Leonor)
Ao final da viagem, a cereja do bolo:  a Cidade do Cabo, na África do Sul.  A vista da Montanha da Mesa com direito à bondinho e tudo, só rivaliza com a cidade maravilhosa do Rio de Janeiro. (Foto: Ana Leonor)

O custo

Esse formato de tour, onde o cliente participa das tarefas, foi desenvolvido não somente pelo estilo de viagem de aventura, mas também para diminuir os custos extras com mão-de-obra, alimentação, acomodação e transporte.  Geralmente no pagamento à agência estão incluídos os meios de transporte (caminhão, barcos, canoas, além do combustível), o acampamento, as entradas para os Parques Nacionais e lugares turísticos, 3 refeições diárias, pedágios do caminho e taxas.  Além do pagamento feito à agência (pode ser via internet), existe outra taxa que deverá ser entregue diretamente ao guia do tour.  Esta será usada para comprar a comida nos supermercados e feiras ao longo da viagem.  Ao escolher a companhia, o turista também deve prestar atenção ao que está incluído.  Algumas agências oferecem apenas duas refeições ao invés de três e outras sugerem que se você trabalhar mais na ajuda das atividades, o custo pode ser reduzido.  Mas vale lembrar que o barato pode sair caro (afinal férias são férias), portanto deve-se ler com atenção os pormenores do contrato de cada companhia para acertar na sua escolha.

O custo de um tour pode variar de US$500 por 8 dias, até US$3.500 para 65 dias de viagem.  No caso do Southern Star, por exemplo, o valor é de US$1.275, mais a taxa local de US$330.  Além disso, para os gastos com lembrancinhas, chocolates, bebidas alcoólicas e etc. deve-se adicionar algo entre US$15 e US$30 por cada dia.

O último gasto (ou primeiro, dependendo do ponto de vista) é da passagem aérea para o local onde o tour inicia.  Um vôo de ida e volta do Brasil para a maior parte dos países africanos custa em torno de US$1200 a US$1800.

Achou caro?  Imagine fazer esta mega-viagem por conta própria?  Custaria cinco vezes mais!  Com direito a refeições, transportes, acomodação (simples, mas ainda assim) e entradas de parques nacionais o valor desta aventura compensa não só pela diversidade de itinerários, mas também pela possibilidade de visitar locais remotos.  Para quem gosta de aventuras, variedade de percursos, e tem a flexibilidade de conviver em grupos, outros roteiros levam às praias de Zanzibar, aos gorilas de Uganda, aos vôos de balão na África do Sul, às pirâmides do Egito, aos lemures de Madagascar, aos camarões gigantes de Moçambique, e por aí vai…

Serviços:

Agências de turismo que oferecem o tour de caminhão   
Dragoman – www.dragoman.com
Kumuka – www.kumuka.com
African Overland – www.africanoverland.co.za
Overland Travel – www.overlandtravel.com

Parques Nacionais e locais turísticos
Victoria Falls – www.places.co.za
Parque Nacional do Chobe – www.chobe-national-park.com
Okavango Delta – www.okavango-delta.net
Parque Nacional do Etosha – www.namibian.org/travel/namibia/etosha.htm

Companhia aérea que voa para África
South African Airways – www.flysaa.com

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